As plantas medicinais têm sido usadas como tratamento de doenças desde que o ser humano deixou de ser nômade e estabeleceu a agricultura. Muitas fazem parte de rituais de povos indígenas e religiões em diferentes lugares de mundo. O interesse pela fitoterapia, que é como é chamado o tratamento com plantas medicinais, vem crescendo exponencialmente desde o último século, impulsionado pela busca de uma medicina que causasse menos efeitos colaterais que a alopatia.
Boa parte dos remédios alopáticos, porém, são derivados de produtos extraídos de plantas medicinais. O ácido acetilsalicílico, substância ativa da Aspirina, é um exemplo clássico, extraído de uma espécie de salgueiro. Esta é a utilidade das plantas medicinais para a medicina alopática: fonte de substâncias ativas que devem ser isoladas, patenteadas e transformadas em comprimidos que vão encher as prateleiras das drogarias.
O fator complicador é que as substâncias ativas, quando isoladas, geralmente provocam efeitos colaterais danosos às pessoas. A fitoterapia faz uso das plantas em sua forma integral, pois há uma sinergia entre as substâncias que a compõem que evita que uma fique em excesso no organismo, provocando um efeito desagradável ou nocivo.
Uma história que mostra a importância da sinergia na fitoterapia é o uso com sucesso da kawa-kawa. A kawa-kawa (Piper methisticum) é uma planta comum no Havaí, e muito consumida pelos havaianos como uma bebida que causa relaxamento e sono. Ora, se há um tipo de remédio que nós ocidentais adoramos, são aqueles que nos fazem relaxar. Começou-se a prescrever e vender kawa-kawa no mundo todo. Através de análise bioquímica, descobriu-se a substância ativa que produzia o relaxamento e passou-se a produzir extratos de kawa-kawa que obtivessem o máximo dessa substância. Resultado: começaram a aparecer pessoas com cirrose no fígado pelo uso da kawa-kawa. E por que os havaianos não têm mais cirrose do que a população que não consome kawa-kawa nos outros países? Bem, o processo moderníssimo de extração diminuía a concentração de outras substâncias que são protetoras do fígado. Ou seja, o mal que uma substância provoca é anulado por outra substância da mesma planta! O extrato padronizado implica num risco à saúde muito maior do que o benefício que ela provoca. Voltou-se a usá-la então do modo mais primitivo, que é a tintura mãe, que causa o relaxamento esperado sem provocar a destruição do fígado.
Este caso ilustra o risco que as plantas medicinais podem oferecer, mas mostra que este risco é geralmente fruto de não se reconhecer a especificidade da fitoterapia e lidar com as plantas com os mesmos métodos da alopatia. Quando elas são usadas segundo observações de seu uso tradicional, dificilmente causam efeitos adversos. As plantas medicinais precisam ser mais estudadas, não de forma reducionista como a alopatia costuma fazer, mas de uma maneira interdisciplinar, por médicos, farmacêuticos, antropólogos e biólogos, para que possam oferecer seus recursos terapêuticos a muito mais pessoas.