Tecendo o Fio do Destino, em Nova Friburgo

Tecendo a Manhã

Um galo sozinho não tece uma manhã:
ele precisará sempre de outros galos.
De um que apanhe esse grito que ele
e o lance a outro; de um outro galo
que apanhe o grito de um galo antes
e o lance a outro; e de outros galos
que com muitos outros galos se cruzem
os fios de sol de seus gritos de galo,
para que a manhã, desde uma teia tênue,
se vá tecendo, entre todos os galos.


E se encorpando em tela, entre todos,
se erguendo tenda, onde entrem todos,
se entretendendo para todos, no toldo
(a manhã) que plana livre de armação.
A manhã, toldo de um tecido tão aéreo
que, tecido, se eleva por si: luz balão.

João Cabral de Melo Neto

Cada um de nós nasce com um destino, não como um livro previamente escrito em que cada ato nosso está previsto, mas como uma missão a nós confiada. Isto faz com que a vida tenha um sentido e, muitas vezes, sofremos com angústia ou depressão por não percebê-lo claramente. Os fatos de nossas vidas estão aí para que encontremos o Fio do Destino que, junto com o nosso livre arbítrio, tece os acontecimentos tanto no nosso mundo interior quanto na nossa vida nas comunidades em que vivemos.

Este curso tem o objetivo de buscar o fio do destino de cada um, desembaraçá-lo, tecê-lo de forma diferente, mais confortável, mais de acordo com o sentido que queremos dar para nossas vidas. Para isso trabalharemos com fatos de nossas próprias vidas. Este trabalho será feito com palavras e arte. Ninguém precisa ser artista ou ter conhecimentos prévios de Antroposofia para participar, é claro.

Muitas das questões que nos colocamos hoje são percebidas de modo diferente quando as situamos no contexto mais amplo da vida toda. A troca de experiências de vida num grupo é enriquecedora e suaviza os sentimentos ligados a essas experiências.

Coordenado por:

  • Nina Veiga

Educadora Waldorf e Psicopedagoga artística, mestre em linguagem e cultura.

  • Rosângela Cunha

Psicóloga, Gestalt-terapeuta e Terapeuta Biográfica.

  • Marcelo Guerra

Médico Homeopata e Terapeuta Biográfico.

Onde e quando?

Em Nova Friburgo, no Sítio Vale de Luz, de 4 a 7 de setembro (feriado da Independência) de 2010.

Quanto?

R$450,00 ou 5X R$90,00

(O preço inclui os honorários e deslocamento dos coordenadores, os materiais usados durante o workshop, a divulgação, a hospedagem em quartos compartilhados e a alimentação. A inscrição é confirmada com o depósito da primeira parcela.)

Escreva para rosangela@terapiabiografica.com.br,  ou marceloguerra@terapiabiografica.com.br para mais informações. Ou ligue para:

(21)7697-8982 ou (22)9254-4866

O Mundo é Belo

Na Terapia Biográfica usamos essa afirmação como símbolo do período de desenvolvimento que todos passamos de 7 a 14 anos. Este é um período em que buscamos, identificamos e valorizamos a beleza no mundo. Se até os 7 anos nosso principal referencial era a própria família, nessa fase a criança se divide entre a casa e a escola, e a comparação surge como atividade que permite classificar tudo o que vivenciamos no mundo.

A beleza é encontrada nos contos de fadas, nas histórias de heróis, nas lendas e fábulas. A natureza é outra fonte inesgotável de apreciação da natureza para uma criança, que se delicia vendo e brincando com os animais, se extasia diante de uma flor, se maravilha com o mar. A criança participa da beleza que há no mundo, ela não é mera espectadora, ela brinca com os animais, tira as flores do pé e se enfeita com elas, inventa mil brincadeiras na praia.

Quando adultos, perdemos muito dessa capacidade de apreciar e desfrutar a beleza e precisamos muito da confirmação do outro para podermos reconhecê-la. Assim, o belo é aquilo que todos, ou a maioria, considera belo, e geralmente esta é uma visão muito superficial, pois não há contato com a essência daquilo que é observado.

Quando visitamos uma cidade, isso se torna claro por escolhermos visitar somente os pontos turísticos consagrados, que são verdadeiros pastiches. O Rio de Janeiro, por exemplo, é famoso pela Pão de Açúcar e pelo Cristo Redentor. Sem dúvida, lindos! Mas o que eu mais gosto no Rio de Janeiro é de tomar um chopp sexta-feira à tarde, nas ruas do centro, em que todos estão saindo do trabalho e, de certa forma, comemorando o fim de semana que está começando. Este é o tipo de beleza que lembra aquela que vivenciamos quando crianças: você participa dela, e a alegria presente nela é o que a faz tão especial. Ninguém vai fotografar as mesas cheias de pessoas tomando chopp e comendo peixe frito, você vai lá participar dessa maravilha!

Precisamos resgatar nossa apreciação de criança para ter um novo maravilhamento com a beleza do mundo, uma beleza da qual podemos ser participantes e não somente espectadores.

Marcelo Guerra

Médico Homeopata e Terapeuta Biográfico

Co-fundador do DAO Terapias, realiza workshops de auto-desenvolvimento em várias cidades do Brasil.

Crônica de Nina Veiga

Lacunas



Muitas vezes, nossos relacionamentos, nosso trabalho, nossas escolhas de vida são como um papel quadriculado, onde apenas alguns quadrados são preenchidos e outros permanecem em branco. Essas lacunas podem ser propulsoras de mudanças. Os quadriculados preenchidos dão a sensação de que está tudo bem, mas o que ainda falta ser preenchido nos impulsiona. A questão é saber qual o peso as lacunas têm em nossa história e o quanto elas são suficientemente fortes para nos mover de nossa zona de conforto preenchida e estável.

Participei de um trabalho biográfico recentemente. Já falei algumas vezes sobre Biografia Humana aqui na coluna.  O objetivo da Biografia é promover um contado panorâmico com nossa própria história de vida, colocando em perspectiva fatos e questões para que possamos, olhando um pouco mais de longe, reconhecer os sutis fios que nos conduzem pelo caminho.


Hoje quero comentar uma pequena experiência que tive recentemente em Nova Friburgo, através do trabalho do médico homeopata e terapeuta biográfico, Marcelo Guerra, durante o V Encontro de Artes Waldorf.


A vivência, chamada de Observação e sentido, usava a arte para sensibilizar o participante e deslocar sua maneira costumeira de ver a si e ao mundo.


Em dado momento, o terapeuta pediu para que cada um de nós desenhasse uma cena de nossa vida que fosse significativa para estar ali naquele momento. O trabalho era realizado em grupos de três pessoas que depois deveriam partilhar seus desenhos e suas experiências.


No grupo em que eu estava, um desenho me chamou particularmente a atenção. Nele, seu autor desenhou um plano quadriculado à direita, uma gravata ao centro e a esquerda  estava preenchida com raios de sol e flores. Do lado direito, uma fisionomia triste, do lado esquerdo, uma alegre. Ao explicar o desenho para o resto do grupo, o jovem falou que era um executivo em Nova York, estava muito bem financeira e profissionalmente, mas que a vida dele era cheia de lacunas. Quando começou a perceber o  peso que essas lacunas não preenchidas tinham em sua  vida, resolveu largar a gravata, mudar de emprego e com isso acabou se sentindo mais inteiro, apesar de ter uma vida muito simples e com poucos recursos financeiros.


Desde então, tenho pensado no peso das minhas próprias lacunas. A vida que levo não é ruim, tenho muitos quadradinhos preenchidos, mas existem também lacunas. Seriam essas lacunas suficientemente fortes para promover mudanças tão qualitativas e intensivas como as de meu colega de exercício? Seria eu corajosa o bastante para olhar para essas lacunas e reconhecê-las como fator de transformação?
Impresso e publicado originalmente em 17 de julho de 2010.

Amizades de Longa Data

Segundo um amigo, a vida é como rapadura: é doce, mas não é mole, não!

Nos momentos mais duros, em que precisamos de um ombro amigo, muitas vezes é a um amigo de infância que recorremos. O que torna tão especial uma amizade que foi construída há tantos anos? Numa olhada superficial, o fato da longa duração da amizade de infância já a torna especial. Mas há algo mais, muito mais!

Na metodologia do trabalho biográfico, estudamos o desenvolvimento do ser humano com um viés evolutivo, em que cada um vai tomando contato e expressando cada vez mais a sua essência, o que se chama “individuação”. Nesta metodologia, dividimos didaticamente a vida em períodos de sete anos, os chamados “setênios”. No primeiro setênio, de 0 a 7 anos, a criança tem uma dependência e ligação quase exclusiva de sua família. No

segundo setênio, de 7 a 14 anos, a criança divide essa ligação com a escola. Ela vive em dois mundos diferentes, a casa e a escola. Ela depende dos cuidados e autoridade dos pais e das professoras e professores.

Buscando identificação

É neste segundo setênio que a criança aprende a criar amizades, encontrando outras crianças que têm os mesmos interesses. Através dessa identificação, a criança cria um vínculo que ela escolheu e torna-se amiga de alguém. Um amigo que vai escutar suas reclamações sobre seus pais, suas dificuldades com os outros colegas, suas alegrias simples, suas brincadeiras.

Quando temos um amigo pela primeira vez, criamos uma nova imagem do que são os limites.Quando temos um amigo pela primeira vez, criamos uma nova imagem do que são os limites. Se até então, os limites eram impostos pelos pais e/ou professores, agora os limites são parte de um acordo explícito ou implícito entre dois amigos, porque não queremos magoar um amigo

nem ser magoados por ele. Este é o germe do respeito que deve haver em todos os relacionamentos. E que levamos para a vida adulta para desenvolvermos no respeito entre colegas de trabalho, no respeito na vida amorosa e por aí vai…

Nesta fase, a criança ainda vê o mundo sem as lentes das ideologias (que ela vai buscar no próximo setênio, durante a adolescência) e pode ver o mundo de uma forma ingênua, mais carregada de fantasia, experimentando-o e saboreando-oo de uma forma própria. A adolescência simboliza a queda do paraíso, em que as fantasias e essa visão ingênua dão lugar à crítica e à divisão. Na vida adulta, quando nos defrontamos com situações mais duras, o amigo de infância é aquele porto seguro, o que traz aconchego e confiança, que nos permite dissolver essa dureza e perceber novamente a doçura da rapadura que é a vida.

Dedico este texto a Orlando, meu querido e leal amigo desde os 11 anos, duplamente compadre, que sempre tem uma palavra amiga que me faz ver o mundo com os olhos alegres e confiantes de uma criança.
Artigo originalmente publicado na Revista Personare

Alice e a crise de identidade

Artigo originalmente publicado na Revista Personare.

Marcelo Guerra

O filme Alice no País das Maravilhas, na versão de Tim Burton, além de sua excepcional beleza que, graças ao efeito 3D, nos toca quase que literalmente, nos proporciona uma importante reflexão sobre a Crise de Identidade. Arquetipicamente esbarramos com ela na passagem da adolescência para a vida adulta.

Enquanto em algumas sociedades tribais os jovens precisam passar por lutas ou serem largados numa floresta, em nossas sociedades ocidentais encontramos metáforas dessas lutas e aventuras dentro de florestas desconhecidas. O final de faculdade e a procura por um emprego geralmente se assemelham bastante à sensação de estar perdido no meio de uma floresta. Precisamos demonstrar habilidades que ainda não estamos bem certos de possuirmos. Alice se vê diante de uma escolha ‘profissional’ (afinal ser esposa era praticamente uma profissão para as mulheres daquela época), ao ser proposta em casamento por um jovem rico e sem graça. Este é o momento em que ela percebe que sua vida adulta está batendo à sua porta, e sua Crise de Identidade começa.

Alice cai num buraco muito fundo, suas certezas da adolescência ficam todas em suspenso, uma sensação de estar no vácuo. Afinal, a adolescência é uma época de dúvidas, mas costumamos mascará-las com ideologias que buscamos desesperadamente. Agora, as ideologias precisam passar por um choque com a realidade. Ser adulto implica em buscar a sua própria verdade e não emprestarmos uma de alguma ideologia, por mais sublime que seja. E a sua verdade pode não ser tão sublime assim, afinal nossa personalidade está povoada por elementos de luz e de sombra.

Alice se vê diante dessa crise e nem sabe se é ‘a Alice’! Põe-se numa jornada de exploração, típica do início da vida adulta, em que viajamos muito, conhecemos muitas pessoas diferentes (saindo daquele esquema do ‘meu grupo’ tão comum na adolescência), trabalhamos em vários lugares diferentes, ou seja, buscamos conhecer o mundo como ele é. Recebemos ajuda de pessoas mais velhas e experientes, como o Chapeleiro Louco fez com Alice.

Ao fim da exploração, Alice se vê diante do Jaguadarte (uma espécie de dragão) e, principalmente, diante do último fio de convicção ideológica que guarda de sua adolescência: ‘Eu não sou capaz de matar’. Cada vez é mais comum nos agarrarmos aos traços de nossa adolescência, até mesmo pelo excessivo valor que é depositado à imagem da adolescência pelos meios de comunicação. Um exemplo disso é o fato, cada vez mais comum, de ficar morando com os pais por muitos anos depois de adultos. E o comportamento em casa de quem mora com os pais é de adolescentes, geralmente sem qualquer responsabilidade. Quando Alice corta a cabeça do monstro, ela diz adeus à adolescência e se posiciona como mulher adulta que sabe que é Alice e que pode muito mais do que a imagem de lourinha fragilzinha pode fazer supor. Ela se torna Independente, que é aquilo que buscamos através de nosso desenvolvimento desde o momento em que nos colocamos de pé e aprendemos a andar. Aí começa uma nova jornada!

O lixo e nossa responsabilidade social

Em 1982 eu morava em São Gonçalo e estudava em Niterói, num colégio bem no centro. Desde pequeno, São Gonçalo e Niterói eram para mim como uma só cidade, dois lados bem diferentes da mesma cidade. Em São Gonçalo eu brincava na rua, trepava em árvores (em casa ou na casa de algum colega), em Niterói visitava minha tia Florinda, ia ao cinema e comprava roupas. São Gonçalo era árido, mas tinha a diversão, a molecagem. Niterói tinha uma praia linda (só de ver) que o ônibus passava bem em frente, tinha árvores nas ruas, tinha lojas bonitas. Quando eu fui estudar lá e passei a conviver com os niteroienses, percebi que eram dois mundos bem diferentes, e fui tratado como lixo por morar em São Gonçalo. Se fosse hoje com essa onda de cotas no vestibular, deveria haver cota para suburbano. Nós gonçalenses, só tínhamos amigos entre os outros gonçalenses ou com os colegas que vinham do interior estudar em Niterói. Além desses, numa turma de 100 alunos, talvez uns 3 niteroienses fossem nossos amigos. Namorar uma niteroiense, então, sem chance! Éramos lixo!

Neste ano, houve uma greve de garis em Niterói, e andar nas ruas do centro era insuportável, tudo fedia a vômito! A gente desviava do lixo acumulado nas calçadas pelos bares e restaurantes, as ruas cheias de papel, bagaço de cana (por causa do caldo de cana), restos de comida, muitas moscas, ratos.

Por que essas lembranças agora? A tragédia no Morro do Bumba, no Cubango, um bairro de Niterói, está sendo atribuída ao fato de terem construído as casas sobre um lixão que foi desativado em 1982, este mesmo ano da greve. Fiquei pensando que valorizamos muito o impacto do aquecimento global, a que atribuímos responsabilidade maior aos governos, e falamos tão pouco do lixo, cuja responsabilidade maior é nossa, é minha e sua, na nossa casa, no nosso trabalho. No verão passado, a cidade de São Paulo sofreu com as chuvas que teimavam em cair todo dia e inundar boa parte da cidade. O que agravou as inundações? O lixo jogado nas ruas. Aquele papelzinho de bala que alguém não se importou de jogar no chão, aquele panfleto que eu peguei no sinal e joguei pela janela do carro quando o sinal abriu, aquele chiclete que perdeu o doce e eu cuspi no cantinho da calçada.

Segunda-feira, dia 5 de abril, o Grande Rio sofreu com uma chuva de mais de 12 horas que alagou tudo! O que agravou a enchente? Novamente o lixo que não foi para a rua sozinho, que alguém jogou ali.

Terça-feira, 6 de abril, a chuva continua e o Morro do Bumba veio abaixo, um morro artificial, feito de lixo! Eu voltei a me sentir niteroiense/gonçalense (deixando de me sentir o lixo que me impuseram) e imaginei a dor que os moradores de lá estão sentindo. Além do desprezo dos governos, está a nossa responsabilidade. O lixo é nossa responsabilidade, e é preciso que modifiquemos urgentemente nossa forma de consumir, para que possamos mudar este quadro. No domingo foi Páscoa, muitas crianças e adultos ganharam ovos de páscoa e caixas de bombons. Um ovo de páscoa vem envolvido em camadas de papel, sobre um copinho plástico, com um barbantinho, e por aí vai. Um pouco de chocolate em forma de casca de ovo envolto em muito lixo!

Não sei como solucionar este problema do lixo, mas precisamos todos pensar juntos em como cada um pode diminuir a sua produção de lixo. Estar consciente a cada vez que for comprar um produto que, para parecer mais fino, e consequentemente mais caro, está envolvido em várias camadas de embalagem (lixoassim que você o comprar). Precisamos pensar no destino do nosso lixo e em produzir menos lixo.

Poema de Páscoa

Novalis (Friedrich von Hardenberg) 1772-1801

Eu digo que ele vive, a toda gente,

e que ressuscitou,

e que junto de nós e para sempre

pairando ele ficou.

Eu digo, e todos vão também dizer,

aos companheiros seus,

que em breve em toda parte vai nascer

novo reino dos céus.

Perante um novo modo de sentir,

o mundo reaparece;

e a vida nova em nós a ressurgir

da mão dele é que desce.

Vejo o terror da morte mergulhar

no fundo mar escuro,

e toda gente agora a contemplar

com calma seu futuro.

A vereda sombria que ele abriu

para o céu é que vai,

e quem os seus conselhos já ouviu

chega à casa do Pai.

Agora, ao ver morrer alguém querido,

sofremos sem temor.

Saber que o reencontro é concedido

suaviza essa dor.

Com muito mais fervor vamos agir

nos feitos mais singelos,

pois essa sementeira vai florir

A Luz e a Sombra


“Aquele que aprisiono com meu nome fica gemendo nesta prisão.

Vivo ocupado em construir este muro à minha volta;

e, dia a dia, à medida que o muro sobe até o céu,

vou perdendo de vista meu verdadeiro ser na escuridão de tua sombra.

Orgulho-me deste alto muro e o revisto com terra e areia,

para que não se veja nenhuma rachadura neste nome.

E, com os cuidados todos que tomo,

vou perdendo de vista meu verdadeiro ser.”

Rabindranath Tagore

Cada vez mais nos afastamos de qualidades que retratam a essência do nosso EU, gerando como consequência sofrimento e dor. O workshop A Luz e a Sombra na Alma Humana tem por objetivo trabalhar de forma vivencial as forças da alma vinculadas ao sentido do olfato, ampliar a qualidade de contato e levar à reflexão sobre a forma como lidamos em nossa vida diária com a nossa própria violência e vícios.

Está baseado no segundo trabalho de Hércules, em que o Herói luta contra uma hidra de muitas cabeças, que representam nossas sombras, nossas máscaras, que criamos como defesas e depois se tornam nossas prisões. Este workshop é destinado às pessoas que desejam trabalhar o autodesenvolvimento.

Metodologia:

Palestras, atividades artísticas, danças circulares, pesquisa na própria biografia e outras vivências em grupo.

  • O que representam as cabeças da hidra na minha vida?
  • Quais são as sombras que preciso levar à luz para retirar sua força?
  • O que aprendo de mim mesmo ao reconhecer minhas sombras?

Quem coordena?

Rosângela Cunha, Psicóloga, Gestalt-terapeuta e Terapeuta Biográfica

Marcelo Guerra, Médico Homeopata e Terapeuta Biográfico

(Formação Biográfica – Minas Gerais – Escola Livre de Formação Biográfica

Membro do International Trainers Forum em conexão com a General Anthroposophical Section of the School of Spiritual Science do Goetheanum – Dornach/Suiça.)

Quando e onde?

De 12 a 14 de março de 2010, no Chateau dos Jesuítas, em Monnerat ( Duas Barras) – RJ.

De 26 a 28 de março de 2010, no Centro Paulus, em São Paulo – SP

Quanto?

Em Monnerat:

(Os preços incluem estadia em quartos individuais, com alimentação no período do workshop. A inscrição é efetivada com o depósito da primeira parcela.)

  • R$680,00 ou 4X R$170,00.
  • Preço promocional para os inscritos até 31/01/2010: R$540,00 ou 4X135,00.

Em São Paulo:

(Os preços incluem estadia com alimentação no período do workshop. A inscrição é efetivada com o depósito da primeira parcela.)

  • Suíte individual: R$820,00 ou 4X R$205,00.
  • Quarto individual: R$680,00 ou 4X170,00.

Mais informações e inscrições:

Rosângela: (31)8532-2217ou (32)8887-8660 santana@terapiabiografica.com.br

Marcelo: (11)6463-6880, (22)9254-4866 ou (21)7697-8982 marceloguerra@terapiabiografica.com.br

COMO CHEGAR A MONNERAT:

ÔNIBUS DA VIAÇÃO 1001 DIRETO, SAINDO DO RIO DE JANEIRO E NITERÓI (saídas do Rio às 9:10h e 14:15h; e os mesmos ônibus param na Rodoviária de Niterói e saem 30 minutos depois de cada horário, ou seja, 9:40h e 14:45h). É possível também tomar um ônibus até Nova Friburgo, que oferece muito mais horários e outro a partir de lá. O tempo de viagem é de cerca de 3h e 40 minutos de ônibus.Para quem vai de carro, é só pegar a estrada RJ-116 (Niterói-Friburgo) e seguir direto. Após passar por Nova Friburgo, continuar na mesma estrada por aproximadamente 30 minutos. Monnerat fica no km 117 desta estrada.

O lado feminino presente no homem

Artigo originalmente publicado na Revista Online Personare

“Ser um homem feminino não fere o meu lado masculino.” (Pepeu Gomes)

Tanto os homens quanto as mulheres compartilham características que podem ser consideradas masculinas e femininas. Isso ocorre biologicamente e também animicamente. Biologicamente, os hormônios sexuais, estrogênio e testosterona, estão presentes em ambos os sexos, mas em proporções diferentes. O estrogênio é mais preponderante na mulher e a testosterona, no homem.

Animicamente, há dois arquétipos relacionados ao gênero, chamados Anima e Animus. O Animus é o arquétipo masculino presente na mulher e o Anima, o arquétipo feminino presente no homem. É sobre este último que este texto trata.

A Anima é um arquétipo que carrega as qualidades de contração, introspecção, acolhimento, o nutrir o outro, maternidade, o cuidar do outro. São qualidades tradicionalmente associadas ao feminino, e que o homem carrega em sua vida psíquica e pode, ou não, desenvolver ao longo da sua biografia.

Quando somos crianças e adolescentes, recebemos de fora nossa educação, seja pela família, pela escola, pelos grupos que frequentamos, pelas ideologias a que aderimos. Quando nos tornamos adultos, a nossa educação fica em nossas mãos, torna-se auto-educação, e todo nosso desenvolvimento a partir de então está sob nossa responsabilidade.

O cultivo e desenvolvimento da Anima pelo homem depende, então, de sua própria vontade. Nos primeiros anos da vida adulta, o homem se vê diante de circunstâncias que frequentemente o impelem à competição, e isso mantém a sua Anima meio adormecida, latente. Essa competição aparece na vida profissional, onde é mais evidente, assim como nos relacionamentos, em que a busca por uma parceira pode tomar ares de uma verdadeira caçada.

Já na faixa dos trinta anos, o homem (assim como a mulher) já busca temperar mais a razão (característica arquetipicamente masculina) com a emoção (característica arquetipicamente feminina) e assim há um surto de desenvolvimento de sua Anima, como se fosse a puberdade da Anima. As decisões já levam em conta não só fatores materiais, lógicos, mas também sentimentais. No trabalho, por exemplo, ter um bom salário já não representa o único, nem o mais importante, critério para um homem escolher um emprego. Estar num ambiente de trabalho agradável, junto com pessoas amigáveis, conta muito mais. No relacionamento, o fato de uma mulher ser bonita e gostosa diminui um pouco de importância aos olhos do homem, que passa a valorizar mais os atributos de companheirismo, carinho, atenção.

O desenvolvimento da Anima prossegue após esse ‘estirão’ e na faixa dos cinquenta anos a Anima amadurece e floresce no homem (sempre lembrando que a opção ‘ou não’ também é válida, afinal de contas somos livres para escolher o rumo de nossas vidas). Assim, nos relacionamentos amorosos e familiares, o homem passa a ser mais carinhoso, afetuoso, emotivo, demonstra mais os seus sentimentos. No trabalho, tem um cuidado maior com os colegas, principalmente com os mais jovens, de quem muitas vezes pode se tornar uma espécie de tutor e protetor.

Lembro que meu pai, que era um pai disciplinador, autoritário, nessa época me beijou pela primeira vez, o que me causou surpresa e alegria. O pai autoritário tornou-se um avô que cozinhava para nos receber, que puxava os netos pela casa em cima de um ‘tapete voador’, que aprendeu a dizer ‘eu amo você’, que admitiu que sentia muita saudade do pai que morrera há tantos anos, que chorava ao ser homenageado por estagiários em seu trabalho (ele era enfermeiro).

A Anima é um tesouro na vida anímica do homem, que traz conforto e maciez à própria existência e à daqueles com quem se relaciona. Por isso, homens, vamos cuidar bem de nosso lado feminino e fazer um mundo mais carinhoso.

Dedico este texto à memória de Warner, meu pai.