Há 14 anos concluí a formação em Terapia Biográfica, e ano passado iniciei formação em psicologia junguiana. O que eu busco com isso?
A psicologia junguiana é uma abordagem terapêutica que visa auxiliar o indivíduo a resgatar a sua essência e a integrar os aspectos conscientes e inconscientes da sua personalidade. A homeopatia é um sistema de medicina que trata as doenças com substâncias naturais que estimulam a capacidade de cura do organismo.
A psicologia junguiana pode ajudar o médico homeopata a:
• Compreender melhor os sintomas e as emoções dos pacientes, bem como os seus sonhos, fantasias e imagens simbólicas.
• Identificar os arquétipos e os complexos que influenciam o comportamento e a saúde dos pacientes.
• Utilizar técnicas como a amplificação, a imaginação ativa e a sincronicidade para estabelecer uma relação terapêutica mais profunda e significativa com os pacientes.
• Integrar os conhecimentos da homeopatia com os da psicologia analítica, buscando uma visão integral do ser humano.
Os arquétipos de Jung são imagens primordiais que representam motivos humanos fundamentais e que compõem o inconsciente coletivo, que afeta o comportamento das pessoas. Eles podem ser percebidos em sonhos, mitos, contos de fadas e na arte.
A relação entre os arquétipos de Jung e os remédios homeopáticos é que ambos buscam atuar na dimensão mais profunda do ser humano, a sua essência ou self. Os remédios homeopáticos são escolhidos de acordo com o tipo constitucional do paciente, que pode ser influenciado por um ou mais arquétipos. Por exemplo, o remédio Lachesis pode ser associado ao arquétipo da Serpente, que geralmente simboliza a transformação e a cura.
Assim, os remédios homeopáticos podem ajudar a equilibrar a pessoa, favorecendo a integração dos aspectos inconscientes à consciência e trazendo harmonia psíquica.
A fibromialgia é uma doença que não se cura sozinha e tende a se prolongar. Sua causa ainda não é conhecida totalmente, mas tem sido associada a fatores emocionais, como estresse, tristeza, ansiedade e dificuldade de expressar os próprios sentimentos. É uma doença que não apresenta alterações no corpo mesmo, mas o afeta de forma intensa, com dor nos músculos, ossos e tendões. Não existe um exame que possa ser usado no seu diagnóstico, sendo realizado pelo médico na consulta, através de entrevista minuciosa e exame físico.
A pessoa percebe que alguma coisa não está bem, porque sente mal-estar e dores difíceis de explicar.
Não é muito comum encontrar pacientes com sintomas isolados de fibromialgia. A maioria das pessoas com essa doença já vem lutando com tratamentos para outros diagnósticos, como depressão, cansaço, enxaqueca e muitas outras queixas que não são muitas específicas. A pessoa percebe que alguma coisa não está bem, porque sente mal-estar e dores difíceis de explicar.
A dor causada pela fibromialgia localiza-se numa região do corpo para, logo depois de alguns dias, mudar para outra. A dor pode ser uma sensação de peso, uma dor “chata”, mas muitas vezes é uma dor intensa, que atrapalha os movimentos da parte afetada no momento, ou até mesmo a realização de atividades que fazem parte da rotina. A dor de cabeça costuma acompanhar essa dor no corpo. Episódios de diarreia e períodos de prisão de ventre contribuem para o mal-estar da paciente.
…é uma doença que atinge a pessoa por inteiro e, por isso, necessita de uma abordagem que considera o ser humano de forma integral.
É uma doença que já acomete 2% das pessoas no mundo todo, e quase o dobro desses pacientes são mulheres. Além da dor, é comum que esses pacientes se queixem de mudanças no sono, cansaço, dor de cabeça e alterações intestinais. O que é uma demonstração de que é uma doença que atinge a pessoa por inteiro e, por isso, necessita de uma abordagem que considera o ser humano de forma integral.
A Homeopatia vem sendo utilizada com sucesso há décadas no tratamento de fibromialgia. Trabalhos recentes mostram o resultado na melhora das dores e da qualidade de vida em mulheres com fibromialgia e outras doenças crônicas.
Aproveitei o feriado para assistir alguns filmes. Dentre eles, vi um afegão, muito interessante, chamado PEDRA DE PACIÊNCIA, e aproveitei para rever um francês que gostei muito e já indiquei para várias pessoas, A FAMÍLIA BÉLIER. Decidi rever por causa do tema do primeiro. (O texto contém spoilers, mas não afetam a experiência de assistir os filmes).
Os filmes apresentam inúmeros contrastes, como o ambiente rural bucólico X a cidade destruída pela guerra, as preocupações de uma adolescente europeia X o desejo de um mínimo de autonomia da mulher afegã. No entanto, ambos mostram uma necessidade universal não satisfeita: a necessidade de alguém ser escutado, de poder revelar sua história e suas aspirações às pessoas próximas sem medo de condenação, críticas ou humilhação.
A necessidade de alguém ser escutado, de poder revelar sua história e suas aspirações às pessoas próximas sem medo de condenação, críticas ou humilhação.
PEDRA DE PACIÊNCIA é a história de uma mulher afegã, vivendo em meio à guerra, tendo que cuidar do marido em estado vegetativo por causa de uma bala na nuca. Ela começa a falar com ele, a princípio queixando-se da situação de abandono em que estão, sem atendimento médico, sem dinheiro, sem família, às moscas. E quando eu digo às moscas, é também literalmente, porque sempre aparecem muitas moscas no filme.
Aos poucos, ela vai contando sua história ao marido que está ali sem expressar nenhuma reação. Conta os seus medos, suas aspirações, como foi a sua percepção do noivado e do casamento. Conta de como se sentiu decepcionada por ter se casado sem a presença do noivo, devido à guerra. Nessa ocasião, o noivo foi representado por seu punhal, um símbolo de virilidade, poder e honra, o que é bastante significativo tendo em conta a descrição que a mulher faz de sua rude vida em comum e de suas relações sexuais, descritas como relações sem afeto, completamente de mão única. À medida em que vai se abrindo para esse homem de quem ela na verdade sabe muito pouco, ela vai demonstrando maior preocupação e cuidado com ele.
A protagonista lhe conta sobre sua infância, sobre o pouco cuidado e acolhimento que o pai dedicava a si e à sua irmã mais velha, muito menos do que às suas codornas. Fala da subjugação da mulher numa cultura islâmica fundamentalista, do seu valor como moeda de troca, e de como isso a perturbava. Por fim, conta até seus segredos mais íntimos, que poderiam ameaçar sua própria vida.
Em meio à violência da guerra, ela conhece um homem com quem ela pode ter alguma troca, que escuta seus desejos e de quem ela escuta a história. O final do filme exibe alguma esperança de redenção em meio à dor.
A FAMÍLIA BÉLIER se passa no interior da França, e a protagonista é uma adolescente que ajuda os pais na fazenda em que vivem e frequenta a escola, com todas as questões próprias a esse contexto. O detalhe é que seus pais e seu irmão são surdos-mudos, e ela faz a ligação da família com os fornecedores e compradores, com o mundo em geral. Num paralelo, o filme vai mostrando o nascimento e crescimento de um bezerro da fazenda, que ela batizou de Obama, por ser diferente do restante do rebanho.
Na escola, ela precisa escolher uma disciplina de artes e se decide por entrar para o coral, para se aproximar de um garoto por quem ela tinha algum interesse. Logo o professor percebe que ela possui uma voz excelente e sugere que ela participe de um concurso para fazer parte de um importante coral em Paris. O que havia sido uma decisão sem interesse real na música traz um dilema que vai afetar toda a sua vida e de sua família.
Por não escutar, a princípio seus pais não valorizam seu interesse pela música, mas ao se darem conta da repercussão que o seu canto provoca nas pessoas, deixam um pouco de lado seus interesses e dificuldades pessoais para ajudá-la a realizar-se. O filme é uma metáfora meio óbvia da eterna queixa dos adolescentes de que “ninguém me escuta”. Neste caso, não escutam mesmo.
É o interesse real pelo que o outro tem a dizer que cria vínculos entre nós.
É a escuta que permite que as pessoas se conectem de verdade, muito além de curtidas e compartilhamentos. É o interesse real pelo que o outro tem a dizer que cria vínculos entre nós. Não é uma escuta motivada por curiosidade ou desejo de julgamento, mas uma escuta de histórias, daquilo que pensa e sente aquele que fala, o que lhe motiva, o que lhe causa dor e desconforto, quais são suas aspirações. Aquilo que torna alguém humano, em resumo.
A quem você pode escutar hoje?
As psicoterapias fazem dessa escuta uma importante profissão, e têm ajudado muitas pessoas desde que Freud descobriu o Inconsciente. Nesse caso, é uma escuta qualificada, com uma técnica própria a cada modalidade de psicoterapia. Mas a escuta verdadeira não deve se limitar aos consultórios, ela deve permear os relacionamentos humanos, sejam amorosos,entre pais e filhos ou entre amigos. Uma vez, um pastor me disse numa conversa que Jó, da história do Velho Testamento, no auge das desgraças que lhe aconteceram, recebeu a visita de amigos que simplesmente se sentaram ao seu lado por sete dias para se solidarizar e escutar o que ele tivesse vontade de dizer. Eles não foram para sugerir nada, para criticar nada, só para estar ao seu lado e lhe emprestar os ouvidos. Acredito que estamos perdendo essa capacidade da escuta e precisamos reaprendê-la para que a rede de nossas conexões humanas possa ser novamente tecida. A quem você pode escutar hoje?
Quando olhamos para o que vivemos até hoje, temos uma visão panorâmica, semelhante a quando você está no alto de uma montanha e pode ver a paisagem lá embaixo, com sua topografia, seus rios, suas ruas, suas casas e prédios. Cada esquina que você vê tem muita importância.
E qual foi a energia usada para construir essa paisagem da sua vida? Foi a vontade, essa força interna que nos impulsiona a superar obstáculos, que faz um atleta querer completar uma prova mesmo quando o corpo já não responde. Lembra daquela corredora suíça na maratona das Olimpíadas de Los Angeles? Aquele é um exemplo de vontade que foi televisionado para todo o mundo, mas todos os dias essa vontade faz com que pessoas acordem cedo e saiam para o trabalho, ou durmam mais tarde estudando para melhorar de vida. É a vontade que permite que muitas mulheres que vivem em situação de miséria consigam alimentar seus filhos pelo menos por hoje, mesmo que seja com comida recolhida do lixo de restaurantes. É a mesma vontade que serve como cimento para manter um casal juntos por longo tempo, apesar das dificuldades grandes e pequenas que sempre existem quando se juntam duas vidas.
A vontade é a energia que nos leva a fazer ou não fazer uma coisa, pelo exercício de nosso livre arbítrio ou livre determinação, sem necessidade de nenhuma influência externa que obrigue a isso.
A Medicina Chinesa considera que a vontade é um atributo que está diretamente ligado à formação de nosso corpo material. É muito mais do que um estado psíquico, é algo que tem uma ligação umbilical com o nosso corpo e nossa própria existência. Age de forma inconsciente e inteligente, modelando nosso destino, pelas nossas ações e escolhas.
Ela não é privilégio de alguns, não é um dom, como o daquele cara que tira música de ouvido no violão sem nunca ter feito uma aula. Todos nascemos com essa vontade. É com ela que vamos bordando nossa biografia. Preste atenção na sua história, que você vai reconhecer essa vontade e colocá-la para trabalhar a seu favor.
A vontade é a energia que nos leva a fazer ou não fazer uma coisa, pelo exercício de nosso livre arbítrio ou livre determinação, sem necessidade de nenhuma influência externa que obrigue a isso.
A boa notícia é que é possível exercitar a vontade, como um treinamento. O primeiro passo é tomar consciência do que se quer. Daí que o trabalho para a concretização desse desejo deve se tornar um hábito. Para muitos, esse hábito vai se tornar chato e penoso no decorrer do tempo, afinal aquilo que é novo geralmente é mais atraente. Contudo, a certeza da meta a ser alcançada serve de combustível para superar esse desconforto da rotina e aplicar-se para atingir aquela meta que um deseja. Para esse exercício é bom começar com metas de curto prazo, para que a rotina inicialmente não se prolongue por um tempo longo. É um exercício, pense na academia. Você começa levantando 1kg, e acha impossível fazê-lo com 30kg. Mas com a continuidade da prática, os 30kg se tornam viáveis. Quando você começa a atingir metas que deseja, ainda que aparentemente pequenas, isso aumenta a sua autoconfiança e o desejo de buscar metas maiores. Não se deixe vencer pela rotina, ela pode ser sua aliada, se você colocar sua vontade em ação.
Texto originalmente publicado no portal Personare.
A investigação das experiências infantis e sua influência na biografia do adulto. Carinho, cuidado, confiança, coragem, resiliência: aprendizagens da infância que organizam a experiência do adulto. De que maneira a sua infância influencia a sua vida hoje?
Dentro de cada um de nós ressoa ainda a nossa infância, que participa da nossa percepção e apreciação do mundo, daquilo que vivenciamos e sentimos, e é indispensável que esse ressoar seja saudável para que possamos ser adultos completos! Muitas vezes não recebemos os cuidados e atenção que precisávamos quando crianças para podermos nos desenvolver de forma plena. Não poucas vezes sofremos abusos quando crianças, sejam físicos, sexuais ou com palavras. Ouvimos ofensas daqueles que deveriam nos proteger e cuidar. Palavras duras, como “você é muito preguiçoso”, “você não consegue aprender nada”, “você só faz besteira”, “você não presta mesmo”. Tudo soa como profecias que precisamos cumprir em nossas vidas, e assim vamos agindo para confirmar as palavras daqueles que amamos tanto. Outras vezes as palavras vieram inflar nosso ego infantil, causando dificuldades na vida adulta da mesma maneira. Essa situação é exemplificada por elogios exagerados como “você é o melhor”, “minha filha nunca me deu trabalho, sempre foi comportada e obediente”, “você é a mais linda de todas”, “ninguém supera sua inteligência”.
Carregamos essas falas como verdades inconscientes.
Tanto as falas negativas quanto as positivas podem fazer com que a criança em desenvolvimento molde o seu comportamento de acordo com elas. Carregamos essas falas como verdades inconscientes. Por serem inconscientes, são mais difíceis de ser identificadas sem um trabalho terapêutico. Por outro lado, o que vivemos na infância é capaz de criar em nós a confiança nas outras pessoas, a criatividade que nos permite solucionar problemas quando adultos e a nossa capacidade de cultivar amizades. Ainda podemos libertar essa memória pulsante de nossa infância dessa dor que não foi expressa e que fica fazendo pirraça ou agindo de acordo com as ofensas que interiorizou desde criança, coisas que não cabem mais na vida de um adulto sadio, e atravancam nossos relacionamentos, nossa vida profissional e, principalmente, nossa autoestima! Porque o que essa criança quer mesmo é brincar, fazer amigos, criar e ser livre!!!
Transformar a dor em criatividade
Nesta vivência, buscaremos identificar os pontos da sua infância que influenciam suas atitudes de hoje, para que possamos trabalhá-los em grupo, buscando entendê-los e transformar a dor em criatividade que nos permita viver uma vida mais de acordo com o que sonhamos e não com o que nos (mal) profetizaram. Este trabalho será realizado em grupo, com interações entre os participantes, que serão incentivados a criar um bebê-estrela, a partir de suas biografias. Venha com uma roupa confortável, traga fotos suas de quando criança, brinquedos que você ainda tenha, objetos de sua infância que são importantes para você.
Quem coordena?
Marcelo Guerra, médico e terapeuta biográfico.
Nina Veiga, Psicopedagoga artística e doutora em educação e coordenadora da Pós-Graduação em Artes-Manuais para Terapias.
Quando e onde? De 18 a 20 de janeiro de 2019, entrando às 18h de sexta e saindo até as 16h de domingo. A nossa estadia será no Centro Holístico Urucum – Sítio Vale de Luz, em Nova Friburgo, e inclui hospedagem compartilhada com refeições ovolactovegetarianas incluídas. Pode ser combinada hospedagem em quarto individual.
No trabalho terapêutico e na educação a Observação e o Sentido são os dois pilares. A Observação busca no exterior o que o Sentido vai elaborar no interior. Goethe, por meio dos seus escritos científicos, elaborou uma metodologia de observação dos fenômenos de grande valor para aqueles que buscam desenvolver a compreensão de sua clientela, sejam pacientes ou alunos.
Esta vivência é um primeiro contato com essa metodologia de forma prática e objetiva, através da observação de plantas. É dirigida a profissionais da saúde ou da educação, ou mesmo a leigos que desejam conhecer uma maneira pouco usual de observar tudo o que nos cerca, sejam pessoas, objetos, seres da natureza ou fatos.
LOCAL: Clínica CEFISA – Rua Trajano de Almeida, 57, Nova Friburgo – Tels: (22) 2522-3411 ou (22)2523-3512
DATA: 31 de março de 2018, de 9h às 16h, com intervalo para o almoço
PREÇO: R$150,00, inclui o material e lanche
FACILITADOR: Marcelo Guerra, médico homeopata e acupunturista, terapeuta biográfico formado pela Escola Livre de Estudos Biográficos de MG.