Idosos se beneficiam com Homeopatia

A homeopatia é uma prática integrativa que complementa a medicina convencional e pode trazer benefícios para a saúde física e mental dos idosos. Alguns exemplos de vantagens da homeopatia são:

  • A homeopatia pode prevenir e tratar problemas respiratórios, como asma, bronquite e pneumonia, que são comuns em idosos.
  • A homeopatia pode ajudar a aliviar os sintomas de doenças crônicas, como diabetes, hipertensão e artrite.
  • A homeopatia pode auxiliar na prevenção da depressão, que é um fator de risco para o surgimento de doenças neurodegenerativas, como o Alzheimer.
  • A homeopatia pode melhorar a qualidade do sono, a memória e a concentração dos idosos.
  • A homeopatia pode oferecer um tratamento individualizado e personalizado para cada idoso, levando em conta sua história de vida, seus hábitos e suas emoções.

Que sementes você tem plantado?

Estava plantando sementes de pimenta murupi que trouxe de Manaus, e pensando quanto tempo levaria para as mudas crescerem. Me dei conta de que as sementes podem nem vingar. Não há garantias! Como em quase tudo (ou tudo?) na vida. Apesar disso, todos os dias plantamos sementes, esperando colher os frutos. Cuidamos do vaso, afofamos bem a terra, lançamos as sementes com boa distância entre elas, expomos ao sol, protegemos do sol excessivo, regamos com regularidade. Nossa parte, nós fazemos, e ficamos no aguardo da colheita, que pode ou não vir a acontecer. O importante é que NOS DEDICAMOS para que possamos colher, ainda que não tenhamos controle sobre todas as circunstâncias do processo. E você, o que plantou hoje?

Saudade do meu pai

Quando criança, eu queria que meu pai me ouvisse, que conversasse comigo. Claro, para a minha geração isso seria um comportamento muito excepcional. O usual era o pai dar ordens inquestionáveis, numa hierarquia rígida como num quartel, sob o risco do pai “perder a autoridade”. Isso era o que importava para os pais, esse era o valor maior a ser perseguido e mantido numa família: a autoridade. Sem autoridade, seria o caos: seu filho viraria um maconheiro ou um mariquinha, sua filha seria uma piranha ou uma mãe solteira, ou ambos virariam comunistas… Frases como “se não me respeita, então que tenha medo de mim” eram comuns nos lares daqueles loucos anos 70. A repressão política que a ditadura militar exercia nas ruas era repetida atrás de cada muro, de cada postigo da porta da frente. Ou não seria o contrário? Os militares estariam apenas levando para a rua aquilo que era comum dentro de cada casa? O que veio primeiro, o ovo ou a galinha? Tanto faz, porque era a mesma merda!

Meu pai não fugia à regra. Ele trabalhava, chegava em casa, sentava no seu lugar marcado (só ele e minha irmã tinham lugar certo na mesa) e era o rei do lar. Reclamações, ordens e silêncio. Ninguém podia incomodar meu pai quando ia assistir televisão. E quando as válvulas da Telefunken falhavam e a imagem sumia, eu tinha que levantar correndo para dar uma porrada do lado da televisão para que a imagem voltasse. (É bem verdade que sinto um pouco de saudade desse método de fazer as coisas funcionar, mas um roteador sem sinal não resistiria nem a um peteleco…).

Ele era distante e autoritário, mas eu o amava. Eu chorava de saudade quando ele viajou para o Pará, no Projeto Rondon, e fui super feliz ao Galeão esperar o avião que trouxe o meu pai com cara de quem não queria ter voltado. De qualquer maneira, eu não parava de questionar. Queria ser aviador da FAB, assim como metade dos meus amigos, mas meu avô me alertou: ‘militar não pode questionar nada. Se receber uma ordem não pode perguntar o porquê. Você vai passar mais tempo preso do que voando’. Me convenceu… Eu não queria ser obrigado a me calar e engolir ordens arbitrárias. Eu queria era voar!!!! E por muito questionar, batia de frente com meu pai quase sempre, tendo que me submeter ou às suas palavras ou à sua mão pesada.

Na adolescência, meu pai se aproximou mais e ousou me enxergar e me escutar. Ensinou-me a dirigir, sem paciência nenhuma, mas levou, assim como meu avô materno. Conversava sobre o colégio, sobre o que eu queria para o futuro. Na minha entrada para o segundo grau, ele fez algo que admiro muito. Eu já queria estudar medicina e o vestibular sempre foi difícil. Uma escola em Niterói tinha muitos alunos aprovados todo ano para medicina. Meu pai tinha estudado lá como bolsista no cursinho pré-vestibular. Fui fazer a prova de admissão para a escola e, no dia da prova, ele me levou (o que era bastante incomum), e durante a prova o diretor da escola o reconheceu no pátio, eles conversaram e o diretor perguntou se ele queria uma bolsa de estudos para mim. Ele recusou, dizendo ‘agora eu posso pagar para o meu filho’. Esse é um exemplo que meu pai deixou, de coerência e dignidade, que eu procuro seguir.

Quando eu passei no vestibular, cheguei em casa com a edição extra do jornal na mão (naquele tempo não existia internet!!!!!) e mostrei-lhe. Ele ficou muito feliz e me deu um dinheiro para eu ir à padaria comprar uma Brahma pra gente comemorar. Sentamos à mesa da cozinha e tomamos aquela Brahma, só eu e meu pai, que ali me reconhecia como um homem, como um amigo!

Meu pai mudou, e tornou-se meu amigo na vida adulta. Como eu fui morar no interior, falávamo-nos por telefone com frequência, contando sobre a vida, minhas conquistas de jovem médico iniciando a carreira numa cidade estranha, as dificuldades de adaptação, as alegrias de estar num lugar tão agradável. Chegamos ao ponto de ele também me pedir opinião sobre decisões que precisava tomar. Meus filhos nos aproximaram mais ainda, e ele amou muito esses netos e demonstrou esse amor! Ele nos recebia com um abraço apertado e um beijo, como ele nunca fez enquanto eu era criança. Acho que ele perdeu o medo de perder a autoridade… Deve ter aprendido que o carinho e o amor valem muito mais do que a autoridade.

Meu pai morreu cedo, sequer chegou aos 60 anos… Já se vão 21 anos que eu o perdi e ainda não me acostumei. Quando alguma coisa muito boa acontece comigo, penso em ligar para ele, para em fração de segundos lembrar que já não dá mais. Gostaria de poder contar com seus conselhos quando passo por situações de dúvida. Seus conselhos tão previsíveis na minha infância, foram cada vez me surpreendendo mais na vida adulta. Somente por esses motivos lamento a sua morte, mas alguns meses antes de morrer, ele me disse que tinha conquistado tudo que havia desejado na vida, que nada mais lhe faltava, que só sentia falta do seu pai.

Há alguns anos, passei por uma situação que tive que ficar fazendo exames e a princípio pensei que não tinha medo de morrer. Mas quando lembrei a falta que sinto do meu pai, imaginei como meus filhos sentiriam a minha falta e tive medo de deixá-los. Com meu pai, mesmo que por vias tortuosas, aprendi que o pai precisa estar presente na vida dos filhos, não pressionando, mas se colocando à disposição para aqueles momentos que parecem sem saída, e poder oferecer uma solução ou, ao menos, solidariedade e aconchego. Saudade do meu pai!

As visões de mundo

https://youtu.be/sOw_qzHKD3A

Machado de Assis

IDÉIAS DO CANÁRIO

Um homem dado a estudos de ornitologia, por nome Macedo, referiu a alguns amigos um caso tão extraordinário que ninguém lhe deu crédito. Alguns chegam a supor que Macedo virou o juízo. Eis aqui o resumo da narração.

No princípio do mês passado, – disse ele, – indo por uma rua, sucedeu que um tílburi à disparada, quase me atirou ao chão. Escapei saltando para dentro de urna loja de belchior. Nem o estrépito do cavalo e do veículo, nem a minha entrada fez levantar o dono do negócio, que cochilava ao fundo, sentado numa cadeira de abrir. Era um frangalho de homem, barba cor de palha suja, a cabeça enfiada em um gorro esfarrapado, que provavelmente não achara comprador. Não se adivinhava nele nenhuma história, como podiam ter alguns dos objetos que vendia, nem se lhe sentia a tristeza austera e desenganada das vidas que foram vidas.

A loja era escura, atulhada das coisas velhas, tortas, rotas, enxovalhadas, enferrujadas que de ordinário se acham em tais casas, tudo naquela meia desordem própria do negócio. Essa mistura, posto que banal, era interessante. Panelas sem tampa, tampas sem panela, botões, sapatos, fechaduras, uma saia preta, chapéus de palha e de pêlo, caixilhos, binóculos, meias casacas, um florete, um cão empalhado, um par de chinelas, luvas, vasos sem nome, dragonas, uma bolsa de veludo, dois cabides, um bodoque, um termômetro, cadeiras, um retrato litografado pelo finado Sisson, um gamão, duas máscaras de arame para o carnaval que há de vir, tudo isso e o mais que não vi ou não me ficou de memória, enchia a loja nas imediações da porta, encostado, pendurado ou exposto em caixas de vidro, igualmente velhas. Lá para dentro, havia outras cousas mais e muitas, e do mesmo aspecto, dominando os objetos grandes, cômodas, cadeiras, camas, uns por cima dos outros, perdidos na escuridão.

Ia a sair, quando vi uma gaiola pendurada da porta. Tão velha como o resto, para ter o mesmo aspecto da desolação geral, faltava-lhe estar vazia. Não estava vazia. Dentro pulava um canário. A cor, a animação e a graça do passarinho davam àquele amontoado de destroços uma nota de vida e de mocidade. Era o último passageiro de algum naufrágio, que ali foi parar íntegro e alegre como dantes. Logo que olhei para ele, entrou a saltar mais abaixo e acima, de poleiro em poleiro, como se quisesse dizer que no meio daquele cemitério brincava um raio de sol. Não atribuo essa imagem ao canário, senão porque falo a gente retórica; em verdade, ele não pensou em cemitério nem sol, segundo me disse depois. Eu, de envolta com o prazer que me trouxe aquela vista, senti-me indignado do destino do pássaro, e murmurei baixinho palavras de azedume.

  • Quem seria o dono execrável deste bichinho, que teve ânimo de se desfazer dele por alguns pares de níqueis? Ou que mão indiferente, não querendo guardar esse companheiro de dono defunto, o deu de graça a algum pequeno, que o vendeu para ir jogar uma quiniela?

E o canário, quedando-se em cima do poleiro, trilou isto:

  • Quem quer que sejas tu, certamente não estás em teu juízo. Não tive dono execrável, nem fui dado a nenhum menino que me vendesse. São imaginações de pessoa doente; vai-te curar, amigo…
  • Como – interrompi eu, sem ter tempo de ficar espantado. Então o teu dono não te vendeu a esta casa? Não foi a miséria ou a ociosidade que te trouxe a este cemitério, como um raio de sol?
  • Não sei que seja sol nem cemitério. Se os canários que tens visto usam do primeiro desses nomes, tanto melhor, porque é bonito, mas estou que confundes.
  • Perdão, mas tu não vieste para aqui à toa, sem ninguém, salvo se o teu dono foi sempre aquele homem que ali está sentado.
  • Que dono? Esse homem que aí está é meu criado, dá-me água e comida todos os dias, com tal regularidade que eu, se devesse pagar-lhe os serviços, não seria com pouco; mas os canários não pagam criados. Em verdade, se o mundo é propriedade dos canários, seria extravagante que eles pagassem o que está no mundo.

Pasmado das respostas, não sabia que mais admirar, se a linguagem, se as ideias. A linguagem, posto me entrasse pelo ouvido como de gente, saía do bicho em trilos engraçados. Olhei em volta de mim, para verificar se estava acordado; a rua era a mesma, a loja era a mesma loja escura, triste e úmida. O canário, movendo a um lado e outro, esperava que eu lhe falasse. Perguntei-lhe então se tinha saudades do espaço azul e infinito…

  • Mas, caro homem, trilou o canário, que quer dizer espaço azul e infinito?
  • Mas, perdão, que pensas deste mundo? Que coisa é o mundo?
  • O mundo, redarguiu o canário com certo ar de professor, o mundo é uma loja de belchior, com uma pequena gaiola de taquara, quadrilonga, pendente de um prego; o canário é senhor da gaiola que habita e da loja que o cerca. Fora daí, tudo é ilusão e mentira.

Nisto acordou o velho, e veio a mim arrastando os pés. Perguntou-me se queria comprar o canário. Indaguei se o adquirira, como o resto dos objetos que vendia, e soube que sim, que o comprara a um barbeiro, acompanhado de uma coleção de navalhas.

  • As navalhas estão em muito bom uso, concluiu ele.
  • Quero só o canário.

Paguei-lhe o preço, mandei comprar uma gaiola vasta, circular, de madeira e arame, pintada de branco, e ordenei que a pusessem na varanda da minha casa, donde o passarinho podia ver o jardim, o repuxo e um pouco do céu azul.

Era meu intuito fazer um longo estudo do fenômeno, sem dizer nada a ninguém, até poder assombrar o século com a minha extraordinária descoberta. Comecei por alfabeto a língua do canário, por estudar-lhe a estrutura, as relações com a música, os sentimentos estéticos do bicho, as suas ideias e reminiscências. Feita essa análise filológica e psicológica, entrei propriamente na história dos canários, na origem deles, primeiros séculos, geologia e flora das ilhas Canárias, se ele tinha conhecimento da navegação, etc. Conversávamos longas horas, eu escrevendo as notas, ele esperando, saltando, trilando.

Não tendo mais família que dois criados, ordenava-lhes que não me interrompessem, ainda por motivo de alguma carta ou telegrama urgente, ou visita de importância. Sabendo ambos das minhas ocupações científicas, acharam natural a ordem, e não suspeitaram que o canário e eu nos entendíamos.

Não é mister dizer que dormia pouco, acordava duas e três vezes por noite, passeava à toa, sentia-me com febre. Afinal tornava ao trabalho, para reler, acrescentar, emendar. Retifiquei mais de uma observação, – ou por havê-la entendido mal, ou porque ele não a tivesse expresso claramente. A definição do mundo foi uma delas. Três semanas depois da entrada do canário em minha casa, pedi-lhe que me repetisse a definição do mundo.

  • O mundo, respondeu ele, é um jardim assaz largo com repuxo no meio, flores e arbustos, alguma grama, ar claro e um pouco de azul por cima; o canário, dono do mundo, habita uma gaiola vasta, branca e circular, donde mira o resto. Tudo o mais é ilusão e mentira.

Também a linguagem sofreu algumas retificações, e certas conclusões, que me tinham parecido simples, vi que eram temerárias. Não podia ainda escrever a memória que havia de mandar ao Museu Nacional, ao Instituto Histórico e às universidades alemãs, não porque faltasse matéria, mas para acumular primeiro todas as observações e ratificá-las. Nos últimos dias, não saía de casa, não respondia a cartas, não quis saber de amigos nem parentes. Todo eu era canário. De manhã, um dos criados tinha a seu cargo limpar a gaiola e por-lhe água e comida. O passarinho não lhe dizia nada, como se soubesse que a esse homem faltava qualquer preparo científico. Também o serviço era o mais sumário do mundo; o criado não era amador de pássaros.

Um sábado amanheci enfermo, a cabeça e a espinha doíam-me. O médico ordenou absoluto repouso; era excesso de estudo, não devia ler nem pensar, não devia saber sequer o que se passava na cidade e no mundo. Assim fiquei cinco dias; no sexto levantei-me, e só então soube que o canário, estando o criado a tratar dele, fugira da gaiola. O meu primeiro gesto foi para esganar o criado; a indignação sufocou-me, caí na cadeira, sem voz, tonto. O culpado defendeu-se, jurou que tivera cuidado, o passarinho é que fugira por astuto…

  • Mas não o procuraram?
  • Procuramos, sim, senhor; a princípio trepou ao telhado, trepei também, ele fugiu, foi para uma árvore, depois escondeu-se não sei onde. Tenho indagado desde ontem, perguntei aos vizinhos, aos chacareiros, ninguém sabe nada.

Padeci muito; felizmente, a fadiga estava passada, e com algumas horas pude sair à varanda e ao jardim. Nem sombra de canário. Indaguei, corri, anunciei, e nada. Tinha já recolhido as notas para compor a memória, ainda que truncada e incompleta, quando me sucedeu visitar um amigo, que ocupa uma das mais belas e grandes chácaras dos arrabaldes. Passeávamos nela antes de jantar, quando ouvi trilar esta pergunta:

  • Viva, Sr. Macedo, por onde tem andado que desapareceu?

Era o canário; estava no galho de uma árvore. Imaginem como fiquei, e o que lhe disse. O meu amigo cuidou que eu estivesse doido; mas que me importavam cuidados de amigos? Falei ao canário com ternura, pedi-lhe que viesse continuar a conversação, naquele nosso mundo composto de um jardim e repuxo, varanda e gaiola branca e circular…

  • Que jardim? que repuxo?
  • O mundo, meu querido.
  • Que mundo? Tu não perdes os maus costumes de professor.

O mundo, concluiu solenemente, é um espaço infinito e azul, com o sol por cima.

Indignado, retorqui-lhe que, se eu lhe desse crédito, o mundo era tudo; até já fora uma loja de belchior…

  • De belchior? trilou ele às bandeiras despregadas. Mas há mesmo lojas de belchior?

… mas ela é esforçada.

Marcelo Guerra

O esforço, se não é aplicado a exercícios físicos, é visto como algo menor, como um consolo, uma compensação. Valorizamos a inteligência, a sagacidade, as soluções rápidas. O filme Fatima, dentre outros temas tão importantes na atualidade, fala sobre o esforço. A história de uma imigrante argelina na França, criando duas filhas adolescentes praticamente sozinha com seu trabalho de faxineira. (Daqui para baixo, tem spoilers). A mais velha recém ingressou na faculdade de medicina e a de 15 anos não se dedica à escola. O esforço é parte da vida da filha mais velha, que perde noites de sono estudando para ser aprovada nas matérias do 1º ano, e da mãe faxineira, que sai de casa de madrugada para o trabalho, só retornando à noite, e ainda arranja tempo para aulas de alfabetização em francês, para diminuir a distância entre ela e suas filhas. Há um paralelo entre o estudo da mãe e o da filha mais velha, ambas ingressando num mundo novo. A mais nova queixa-se com o pai que não sente orgulho da mãe porque ela limpa a sujeira dos ricos, e trabalha demais. Fatima sofre um acidente de trabalho e precisa consultar-se com uma médica do trabalho que a escuta e compreende, e é quando há um dos discursos mais comoventes do cinema, enaltecendo o trabalho e o esforço. O cinema já proporcionou outros discursos memoráveis, como o de Kenneth Brannagh em Henry V.

Fatima limpa privadas, retira o lixo, e obtém o sucesso que busca na vida.

Pessoas da geração Y, considerados como aqueles nascidos nas décadas de 1980 e 1990, em geral receberam uma educação mais liberal que as gerações anteriores, com acesso a tecnologias que estavam em estado nascente e foram se desenvolvendo junto com esses jovens. Estudos ligados à administração de empresas falam de dificuldades que esses jovens apresentam no trabalho, por acreditarem que são especiais, que têm um dom especial. Quando crianças, essa geração era chamada de Crianças Indigo, e era atribuída a eles a mudança futura do mundo. Eram crianças muito especiais. Ainda hoje me deparo com pais que consideram seus filhos muito especiais por ligarem um vídeo no celular. Essas pessoas tratadas como super especiais chegaram à vida adulta e esbarraram numa crise mundial que exige algo para o qual elas não foram preparadas: esforço, sacrifício. Daí vem a frustração e um sentimento de inadequação com a realidade.

Fatima limpa privadas, retira o lixo, e obtém o sucesso que busca na vida, e o seu sorriso na cena final deixa isso bem claro! Depois de ver esse filme, quero me esforçar mais!

“O homem inteligente não é sábio. Sábio é o homem que, esforçando-se, torna-se inteligente.” Sócrates

Esse texto foi originalmente publicado em 2016, no portal O Pensador Selvagem (http://opensadorselvagem.org/arte-e-cultura/o-que-aprendi-nos-filmes/mas-ela-e-esforcada-sobre-o-filme-fatima/ )

Homeopatia para melhorar a qualidade de vida – tratamento de fibromialgia

A fibromialgia é uma doença que não se cura sozinha e tende a se prolongar. Sua causa ainda não é conhecida totalmente, mas tem sido associada a fatores emocionais, como estresse, tristeza, ansiedade e dificuldade de expressar os próprios sentimentos. É uma doença que não apresenta alterações no corpo mesmo, mas o afeta de forma intensa, com dor nos músculos, ossos e tendões. Não existe um exame que possa ser usado no seu diagnóstico, sendo realizado pelo médico na consulta, através de entrevista minuciosa e exame físico.

A pessoa percebe que alguma coisa não está bem, porque sente mal-estar e dores difíceis de explicar.

Não é muito comum encontrar pacientes com sintomas isolados de fibromialgia. A maioria das pessoas com essa doença já vem lutando com tratamentos para outros diagnósticos, como depressão, cansaço, enxaqueca e muitas outras queixas que não são muitas específicas. A pessoa percebe que alguma coisa não está bem, porque sente mal-estar e dores difíceis de explicar.

A dor causada pela fibromialgia localiza-se numa região do corpo para, logo depois de alguns dias, mudar para outra. A dor pode ser uma sensação de peso, uma dor “chata”, mas muitas vezes é uma dor intensa, que atrapalha os movimentos da parte afetada no momento, ou até mesmo a realização de atividades que fazem parte da rotina. A dor de cabeça costuma acompanhar essa dor no corpo. Episódios de diarreia e períodos de prisão de ventre contribuem para o mal-estar da paciente.

…é uma doença que atinge a pessoa por inteiro e, por isso, necessita de uma abordagem que considera o ser humano de forma integral.

É uma doença que já acomete 2% das pessoas no mundo todo, e quase o dobro desses pacientes são mulheres. Além da dor, é comum que esses pacientes se queixem de mudanças no sono, cansaço, dor de cabeça e alterações intestinais. O que é uma demonstração de que é uma doença que atinge a pessoa por inteiro e, por isso, necessita de uma abordagem que considera o ser humano de forma integral.

A Homeopatia vem sendo utilizada com sucesso há décadas no tratamento de fibromialgia. Trabalhos recentes mostram o resultado na melhora das dores e da qualidade de vida em mulheres com fibromialgia e outras doenças crônicas.

Referências:

https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0965229914001034?via%3Dihub

https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/33662995/

Está com dificuldade para emagrecer? Talvez você precise trocar a hora do jantar

Marcelo Guerra

Quando você come perto da hora de dormir, pode ter desconforto durante o sono, principalmente se tiver problema de refluxo gastro-esofágico, geralmente causado por hérnia de hiato. A pressão no abdome naturalmente aumenta quando estamos deitados e, com alimentos no estômago, fica mais fácil que ocorra uma volta de parte dos alimentos do estômago para o esôfago. O incômodo causado pelo refluxo já é suficiente para você querer comer menos e mais cedo à noite, mas há um motivo adicional bem importante.

Muitas pessoas se queixam de muita dificuldade para emagrecer, apesar de comerem menos.

Muitas pessoas se queixam de muita dificuldade para emagrecer, apesar de comerem menos. Um estudo publicado em 10/01/2022 na revista Diabetes Care reforça essa queixa tão comum, e explica o porquê.

No estudo foram comparados 2 grupos, que receberam uma dose de glicose (açúcar) em diferentes intervalos antes de dormir, simulando uma refeição. O grupo 1 recebeu a refeição 4h antes de dormir, enquanto o grupo 2 a recebeu somente 1h antes. O grupo que se alimentou mais cedo teve níveis de insulina mais altos e de glicose mais baixos antes de dormir, enquanto o grupo que se alimentou mais tarde tinha resultados opostos, com a insulina mais baixa e a glicose mais alta.

Este experimento sugere que alimentar-se muito perto da hora dormir causa ou reforça a resistência insulínica, dificultando o emagrecimento. Os diabéticos do tipo 2 também deveriam comer mais cedo, já que esse mecanismo pode causar elevação da glicose no sangue.

Como muitas pessoas tomam Melatonina como suplemento para dormir, ela pode ser também uma causa para dificultar o emagrecimento.

Um achado adicional desse estudo é que a melatonina era 3 vezes e meia mais alta nas pessoas que se alimentaram mais tarde. Isto sugere que esse hormônio pode ter um efeito de aumentar os níveis de glicose no sangue. Como muitas pessoas tomam Melatonina como suplemento para dormir, ela pode ser também uma causa para dificultar o emagrecimento.

É importante que você evite comer à noite alimentos que demoram mais a ser digeridos, como carne vermelha e gorduras. Prefira alimentos mais leves – frutas, verduras e carne branca.

Se você quer emagrecer, está comendo menos e se exercitando mais e, ainda assim, tem tido dificuldade para perder uns quilos, coma mais cedo para que o estômago possa esvaziar-se um pouco até você ir para a cama. Jante pelo menos 4h antes de dormir, e evite suplementos de melatonina.

A gente precisa ser escutado

Marcelo Guerra

Aproveitei o feriado para assistir alguns filmes. Dentre eles, vi um afegão, muito interessante, chamado PEDRA DE PACIÊNCIA, e aproveitei para rever um francês que gostei muito e já indiquei para várias pessoas, A FAMÍLIA BÉLIER. Decidi rever por causa do tema do primeiro. (O texto contém spoilers, mas não afetam a experiência de assistir os filmes).

Os filmes apresentam inúmeros contrastes, como o ambiente rural bucólico X a cidade destruída pela guerra, as preocupações de uma adolescente europeia X o desejo de um mínimo de autonomia da mulher afegã. No entanto, ambos mostram uma necessidade universal não satisfeita: a necessidade de alguém ser escutado, de poder revelar sua história e suas aspirações às pessoas próximas sem medo de condenação, críticas ou humilhação.

A necessidade de alguém ser escutado, de poder revelar sua história e suas aspirações às pessoas próximas sem medo de condenação, críticas ou humilhação.

PEDRA DE PACIÊNCIA é a história de uma mulher afegã, vivendo em meio à guerra, tendo que cuidar do marido em estado vegetativo por causa de uma bala na nuca. Ela começa a falar com ele, a princípio queixando-se da situação de abandono em que estão, sem atendimento médico, sem dinheiro, sem família, às moscas. E quando eu digo às moscas, é também literalmente, porque sempre aparecem muitas moscas no filme.

Aos poucos, ela vai contando sua história ao marido que está ali sem expressar nenhuma reação. Conta os seus medos, suas aspirações, como foi a sua percepção do noivado e do casamento. Conta de como se sentiu decepcionada por ter se casado sem a presença do noivo, devido à guerra. Nessa ocasião, o noivo foi representado por seu punhal, um símbolo de virilidade,  poder e honra, o que é bastante significativo tendo em conta a descrição que a mulher faz de sua rude vida em comum e de suas relações sexuais, descritas como relações sem afeto, completamente de mão única. À medida em que vai se abrindo para esse homem de quem ela na verdade sabe muito pouco, ela vai demonstrando maior preocupação e cuidado com ele.

A protagonista lhe conta sobre sua infância, sobre o pouco cuidado e acolhimento que o pai dedicava a si e à sua irmã mais velha, muito menos do que às suas codornas. Fala da subjugação da mulher numa cultura islâmica fundamentalista, do seu valor como moeda de troca, e de como isso a perturbava. Por fim, conta até seus segredos mais íntimos, que poderiam ameaçar sua própria vida.

Em meio à violência da guerra, ela conhece um homem com quem ela pode ter alguma troca, que escuta seus desejos e de quem ela escuta a história. O final do filme exibe alguma esperança de redenção em meio à dor.

A FAMÍLIA BÉLIER se passa no interior da França, e a protagonista é uma adolescente que ajuda os pais na fazenda em que vivem e frequenta a escola, com todas as questões próprias a esse contexto. O detalhe é que seus pais e seu irmão são surdos-mudos, e ela faz a ligação da família com os fornecedores e compradores, com o mundo em geral. Num paralelo, o filme vai mostrando o nascimento e crescimento de um bezerro da fazenda, que ela batizou de Obama, por ser diferente do restante do rebanho.

Na escola, ela precisa escolher uma disciplina de artes e se decide por entrar para o coral, para se aproximar de um garoto por quem ela tinha algum interesse. Logo o professor percebe que ela possui uma voz excelente e sugere que ela participe de um concurso para fazer parte de um importante coral em Paris. O que havia sido uma decisão sem interesse real na música traz um dilema que vai afetar toda a sua vida e de sua família.

Por não escutar, a princípio seus pais não valorizam seu interesse pela música, mas ao se darem conta da repercussão que o seu canto provoca nas pessoas, deixam um pouco de lado seus interesses e dificuldades pessoais para ajudá-la a realizar-se. O filme é uma metáfora meio óbvia da eterna queixa dos adolescentes de que “ninguém me escuta”. Neste caso, não escutam mesmo.

É o interesse real pelo que o outro tem a dizer que cria vínculos entre nós.

É a escuta que permite que as pessoas se conectem de verdade, muito além de curtidas e compartilhamentos. É o interesse real pelo que o outro tem a dizer que cria vínculos entre nós. Não é uma escuta motivada por curiosidade ou desejo de julgamento, mas uma escuta de histórias, daquilo que pensa e sente aquele que fala, o que lhe motiva, o que lhe causa dor e desconforto, quais são suas aspirações. Aquilo que torna alguém humano, em resumo.

A quem você pode escutar hoje?

As psicoterapias fazem dessa escuta uma importante profissão, e têm ajudado muitas pessoas desde que Freud descobriu o Inconsciente. Nesse caso, é uma escuta qualificada, com uma técnica própria a cada modalidade de psicoterapia. Mas a escuta verdadeira não deve se limitar aos consultórios, ela deve permear os relacionamentos humanos, sejam amorosos,entre pais e filhos ou entre amigos. Uma vez, um pastor me disse numa conversa que Jó, da história do Velho Testamento, no auge das desgraças que lhe aconteceram, recebeu a visita de amigos que simplesmente se sentaram ao seu lado por sete dias para se solidarizar e escutar o que ele tivesse vontade de dizer. Eles não foram para sugerir nada, para criticar nada, só para estar ao seu lado e lhe emprestar os ouvidos. Acredito que estamos perdendo essa capacidade da escuta e precisamos reaprendê-la para que a rede de nossas conexões humanas possa ser novamente tecida. A quem você pode escutar hoje?

Obrigado, Hahnemann

A vida de Hahnemann comporta algumas peculiaridades que devem ser observadas antes de descrevê-la pormenorizadamente. Em primeiro lugar, Hahnemann viveu mais de 88 anos, o que era extremamente raro no século XVIII. Ele nasceu em 1755 e faleceu em 1843, tendo passado a maior parte deste tempo na Alemanha, que não era um país unificado, mas um amontoado de cidades-estado que freqüentemente enfrentavam-se em disputas de poder, e que depois foram todas dominadas por Napoleão e seu exército. Nos últimos anos de sua vida ele desfrutou da fama e expandiu o nome da Homeopatia em Paris, à época a cidade mais importante culturalmente no mundo, o farol para onde todas as mentes em busca de conhecimento e novidades voltavam-se avidamente.

Um homem que defendeu arduamente o ideal de curar sem prejudicar

Esta é a história de um homem que criou uma ciência de curar eficaz, rápida e segura, partindo unicamente de fatos, os quais ele observava atentamente para só depois deles extrair hipóteses e teorias. É a história de um homem obstinado, quase arrogante, que não se curvou ao senso comum nem para evitar a fome sua e de sua numerosa família. Um homem que defendeu arduamente o ideal de curar sem prejudicar, contra uma classe médica irada que não podia aceitar que este médico de origem humilde fosse ensinar-lhes uma nova arte e ciência de curar. Um homem que até seus últimos dias cuidou de aprimorar seu legado maior à Humanidade, a Homeopatia. Hoje a Homeopatia sobrevive e expande-se pelo mundo todo, mas nada disso teria ocorrido se seu visionário fundador tivesse sido mais complacente com seu pares da época. O ódio que os seus opositores lhe nutriram abertamente em vida, hoje foi amplamente sobrepujado pelo amor e gratidão de milhões de médicos homeopatas e pacientes beneficiados pela Homeopatia.

Eu sou grato em primeiro lugar por ser um médico homeopata e, em segundo lugar, por ter tido a oportunidade de fazer este estudo da vida deste grande mestre da humanidade, um homem muito à frente do seu tempo, talvez à frente até do nosso tempo, que captou a essência da matéria e a entregou a nós todos de forma metódica para que possamos perpetuar seu trabalho de trazer saúde verdadeira a nossos irmãos e irmãs que sofrem as mais diferentes mazelas do corpo e da alma. Em sua lápide ele mandou escrever: Non inutilis vixi (Não vivi em vão). Como se houvesse alguma dúvida… Muito obrigado, Christian Frederico Samuel Hahnemann.