Estava plantando sementes de pimenta murupi que trouxe de Manaus, e pensando quanto tempo levaria para as mudas crescerem. Me dei conta de que as sementes podem nem vingar. Não há garantias! Como em quase tudo (ou tudo?) na vida. Apesar disso, todos os dias plantamos sementes, esperando colher os frutos. Cuidamos do vaso, afofamos bem a terra, lançamos as sementes com boa distância entre elas, expomos ao sol, protegemos do sol excessivo, regamos com regularidade. Nossa parte, nós fazemos, e ficamos no aguardo da colheita, que pode ou não vir a acontecer. O importante é que NOS DEDICAMOS para que possamos colher, ainda que não tenhamos controle sobre todas as circunstâncias do processo. E você, o que plantou hoje?
… mas ela é esforçada.
Marcelo Guerra
O esforço, se não é aplicado a exercícios físicos, é visto como algo menor, como um consolo, uma compensação. Valorizamos a inteligência, a sagacidade, as soluções rápidas. O filme Fatima, dentre outros temas tão importantes na atualidade, fala sobre o esforço. A história de uma imigrante argelina na França, criando duas filhas adolescentes praticamente sozinha com seu trabalho de faxineira. (Daqui para baixo, tem spoilers). A mais velha recém ingressou na faculdade de medicina e a de 15 anos não se dedica à escola. O esforço é parte da vida da filha mais velha, que perde noites de sono estudando para ser aprovada nas matérias do 1º ano, e da mãe faxineira, que sai de casa de madrugada para o trabalho, só retornando à noite, e ainda arranja tempo para aulas de alfabetização em francês, para diminuir a distância entre ela e suas filhas. Há um paralelo entre o estudo da mãe e o da filha mais velha, ambas ingressando num mundo novo. A mais nova queixa-se com o pai que não sente orgulho da mãe porque ela limpa a sujeira dos ricos, e trabalha demais. Fatima sofre um acidente de trabalho e precisa consultar-se com uma médica do trabalho que a escuta e compreende, e é quando há um dos discursos mais comoventes do cinema, enaltecendo o trabalho e o esforço. O cinema já proporcionou outros discursos memoráveis, como o de Kenneth Brannagh em Henry V.
Fatima limpa privadas, retira o lixo, e obtém o sucesso que busca na vida.
Pessoas da geração Y, considerados como aqueles nascidos nas décadas de 1980 e 1990, em geral receberam uma educação mais liberal que as gerações anteriores, com acesso a tecnologias que estavam em estado nascente e foram se desenvolvendo junto com esses jovens. Estudos ligados à administração de empresas falam de dificuldades que esses jovens apresentam no trabalho, por acreditarem que são especiais, que têm um dom especial. Quando crianças, essa geração era chamada de Crianças Indigo, e era atribuída a eles a mudança futura do mundo. Eram crianças muito especiais. Ainda hoje me deparo com pais que consideram seus filhos muito especiais por ligarem um vídeo no celular. Essas pessoas tratadas como super especiais chegaram à vida adulta e esbarraram numa crise mundial que exige algo para o qual elas não foram preparadas: esforço, sacrifício. Daí vem a frustração e um sentimento de inadequação com a realidade.
Fatima limpa privadas, retira o lixo, e obtém o sucesso que busca na vida, e o seu sorriso na cena final deixa isso bem claro! Depois de ver esse filme, quero me esforçar mais!
“O homem inteligente não é sábio. Sábio é o homem que, esforçando-se, torna-se inteligente.” Sócrates
Esse texto foi originalmente publicado em 2016, no portal O Pensador Selvagem (http://opensadorselvagem.org/arte-e-cultura/o-que-aprendi-nos-filmes/mas-ela-e-esforcada-sobre-o-filme-fatima/ )
A gente precisa ser escutado
Marcelo Guerra
Aproveitei o feriado para assistir alguns filmes. Dentre eles, vi um afegão, muito interessante, chamado PEDRA DE PACIÊNCIA, e aproveitei para rever um francês que gostei muito e já indiquei para várias pessoas, A FAMÍLIA BÉLIER. Decidi rever por causa do tema do primeiro. (O texto contém spoilers, mas não afetam a experiência de assistir os filmes).
Os filmes apresentam inúmeros contrastes, como o ambiente rural bucólico X a cidade destruída pela guerra, as preocupações de uma adolescente europeia X o desejo de um mínimo de autonomia da mulher afegã. No entanto, ambos mostram uma necessidade universal não satisfeita: a necessidade de alguém ser escutado, de poder revelar sua história e suas aspirações às pessoas próximas sem medo de condenação, críticas ou humilhação.
A necessidade de alguém ser escutado, de poder revelar sua história e suas aspirações às pessoas próximas sem medo de condenação, críticas ou humilhação.
PEDRA DE PACIÊNCIA é a história de uma mulher afegã, vivendo em meio à guerra, tendo que cuidar do marido em estado vegetativo por causa de uma bala na nuca. Ela começa a falar com ele, a princípio queixando-se da situação de abandono em que estão, sem atendimento médico, sem dinheiro, sem família, às moscas. E quando eu digo às moscas, é também literalmente, porque sempre aparecem muitas moscas no filme.
Aos poucos, ela vai contando sua história ao marido que está ali sem expressar nenhuma reação. Conta os seus medos, suas aspirações, como foi a sua percepção do noivado e do casamento. Conta de como se sentiu decepcionada por ter se casado sem a presença do noivo, devido à guerra. Nessa ocasião, o noivo foi representado por seu punhal, um símbolo de virilidade, poder e honra, o que é bastante significativo tendo em conta a descrição que a mulher faz de sua rude vida em comum e de suas relações sexuais, descritas como relações sem afeto, completamente de mão única. À medida em que vai se abrindo para esse homem de quem ela na verdade sabe muito pouco, ela vai demonstrando maior preocupação e cuidado com ele.
A protagonista lhe conta sobre sua infância, sobre o pouco cuidado e acolhimento que o pai dedicava a si e à sua irmã mais velha, muito menos do que às suas codornas. Fala da subjugação da mulher numa cultura islâmica fundamentalista, do seu valor como moeda de troca, e de como isso a perturbava. Por fim, conta até seus segredos mais íntimos, que poderiam ameaçar sua própria vida.
Em meio à violência da guerra, ela conhece um homem com quem ela pode ter alguma troca, que escuta seus desejos e de quem ela escuta a história. O final do filme exibe alguma esperança de redenção em meio à dor.
A FAMÍLIA BÉLIER se passa no interior da França, e a protagonista é uma adolescente que ajuda os pais na fazenda em que vivem e frequenta a escola, com todas as questões próprias a esse contexto. O detalhe é que seus pais e seu irmão são surdos-mudos, e ela faz a ligação da família com os fornecedores e compradores, com o mundo em geral. Num paralelo, o filme vai mostrando o nascimento e crescimento de um bezerro da fazenda, que ela batizou de Obama, por ser diferente do restante do rebanho.
Na escola, ela precisa escolher uma disciplina de artes e se decide por entrar para o coral, para se aproximar de um garoto por quem ela tinha algum interesse. Logo o professor percebe que ela possui uma voz excelente e sugere que ela participe de um concurso para fazer parte de um importante coral em Paris. O que havia sido uma decisão sem interesse real na música traz um dilema que vai afetar toda a sua vida e de sua família.
Por não escutar, a princípio seus pais não valorizam seu interesse pela música, mas ao se darem conta da repercussão que o seu canto provoca nas pessoas, deixam um pouco de lado seus interesses e dificuldades pessoais para ajudá-la a realizar-se. O filme é uma metáfora meio óbvia da eterna queixa dos adolescentes de que “ninguém me escuta”. Neste caso, não escutam mesmo.
É o interesse real pelo que o outro tem a dizer que cria vínculos entre nós.
É a escuta que permite que as pessoas se conectem de verdade, muito além de curtidas e compartilhamentos. É o interesse real pelo que o outro tem a dizer que cria vínculos entre nós. Não é uma escuta motivada por curiosidade ou desejo de julgamento, mas uma escuta de histórias, daquilo que pensa e sente aquele que fala, o que lhe motiva, o que lhe causa dor e desconforto, quais são suas aspirações. Aquilo que torna alguém humano, em resumo.
A quem você pode escutar hoje?
As psicoterapias fazem dessa escuta uma importante profissão, e têm ajudado muitas pessoas desde que Freud descobriu o Inconsciente. Nesse caso, é uma escuta qualificada, com uma técnica própria a cada modalidade de psicoterapia. Mas a escuta verdadeira não deve se limitar aos consultórios, ela deve permear os relacionamentos humanos, sejam amorosos,entre pais e filhos ou entre amigos. Uma vez, um pastor me disse numa conversa que Jó, da história do Velho Testamento, no auge das desgraças que lhe aconteceram, recebeu a visita de amigos que simplesmente se sentaram ao seu lado por sete dias para se solidarizar e escutar o que ele tivesse vontade de dizer. Eles não foram para sugerir nada, para criticar nada, só para estar ao seu lado e lhe emprestar os ouvidos. Acredito que estamos perdendo essa capacidade da escuta e precisamos reaprendê-la para que a rede de nossas conexões humanas possa ser novamente tecida. A quem você pode escutar hoje?
As vivências da infância no cuidado de si
A investigação das experiências infantis e sua influência na biografia do adulto.
Carinho, cuidado, confiança, coragem, resiliência: aprendizagens da infância que organizam a experiência do adulto.
De que maneira a sua infância influencia a sua vida hoje?
Dentro de cada um de nós ressoa ainda a nossa infância, que participa da nossa percepção e apreciação do mundo, daquilo que vivenciamos e sentimos, e é indispensável que esse ressoar seja saudável para que possamos ser adultos completos!
Muitas vezes não recebemos os cuidados e atenção que precisávamos quando crianças para podermos nos desenvolver de forma plena. Não poucas vezes sofremos abusos quando crianças, sejam físicos, sexuais ou com palavras. Ouvimos ofensas daqueles que deveriam nos proteger e cuidar. Palavras duras, como “você é muito preguiçoso”, “você não consegue aprender nada”, “você só faz besteira”, “você não presta mesmo”. Tudo soa como profecias que precisamos cumprir em nossas vidas, e assim vamos agindo para confirmar as palavras daqueles que amamos tanto.
Outras vezes as palavras vieram inflar nosso ego infantil, causando dificuldades na vida adulta da mesma maneira. Essa situação é exemplificada por elogios exagerados como “você é o melhor”, “minha filha nunca me deu trabalho, sempre foi comportada e obediente”, “você é a mais linda de todas”, “ninguém supera sua inteligência”.
Carregamos essas falas como verdades inconscientes.
Tanto as falas negativas quanto as positivas podem fazer com que a criança em desenvolvimento molde o seu comportamento de acordo com elas. Carregamos essas falas como verdades inconscientes. Por serem inconscientes, são mais difíceis de ser identificadas sem um trabalho terapêutico.
Por outro lado, o que vivemos na infância é capaz de criar em nós a confiança nas outras pessoas, a criatividade que nos permite solucionar problemas quando adultos e a nossa capacidade de cultivar amizades.
Ainda podemos libertar essa memória pulsante de nossa infância dessa dor que não foi expressa e que fica fazendo pirraça ou agindo de acordo com as ofensas que interiorizou desde criança, coisas que não cabem mais na vida de um adulto sadio, e atravancam nossos relacionamentos, nossa vida profissional e, principalmente, nossa autoestima! Porque o que essa criança quer mesmo é brincar, fazer amigos, criar e ser livre!!!
Transformar a dor em criatividade
Nesta vivência, buscaremos identificar os pontos da sua infância que influenciam suas atitudes de hoje, para que possamos trabalhá-los em grupo, buscando entendê-los e transformar a dor em criatividade que nos permita viver uma vida mais de acordo com o que sonhamos e não com o que nos (mal) profetizaram.
Este trabalho será realizado em grupo, com interações entre os participantes, que serão incentivados a criar um bebê-estrela, a partir de suas biografias.
Venha com uma roupa confortável, traga fotos suas de quando criança, brinquedos que você ainda tenha, objetos de sua infância que são importantes para você.
Quem coordena?
Marcelo Guerra, médico e terapeuta biográfico.
Nina Veiga, Psicopedagoga artística e doutora em educação e coordenadora da Pós-Graduação em Artes-Manuais para Terapias.
Quando e onde?
De 18 a 20 de janeiro de 2019, entrando às 18h de sexta e saindo até as 16h de domingo.
A nossa estadia será no Centro Holístico Urucum – Sítio Vale de Luz, em Nova Friburgo, e inclui hospedagem compartilhada com refeições ovolactovegetarianas incluídas. Pode ser combinada hospedagem em quarto individual.
Quanto?
R$960, que podem ser parcelados em 3 vezes.
A inscrição pode ser feita pelo e-mail marceloguerra@terapiabiografica.com.br ou pelo WhatsApp (22)98175-7030.
Antroposofia e Desenvolvimento Pessoal – Palestra Gratuita
Palestra pública e gratuita no Espaço Glia, localizado à Rua Nilo Peçanha 142, Ingá, Niterói, RJ. Dia 9 de dezembro, terça-feira, às 19:30h.
Palestrantes: Rosângela de Santa Anna Cunha e Marcelo Guerra, Terapeutas Biográficos e coordenadores do DAO Terapias.
Antroposofia, do grego “conhecimento do ser humano”, introduzida no início do século XX pelo austríaco Rudolf Steiner, pode ser caracterizada como um método de conhecimento da natureza do ser humano e do universo, que amplia o conhecimento obtido pelo método científico convencional, bem como a sua aplicação em praticamente todas as áreas da vida humana.
Dentre essas áreas, a que está mais intimamente ligada ao Desenvolvimento Pessoal é o estudo da Biografia Humana, que identifica as leis biográficas, arquetípicas, pelas quais todos passamos. Através do Trabalho Biográfico, é possível discernir o que é próprio da idade e o que é acontecimento individual, elementos fundamentais para compreensão da nossa biografia como única. A intenção deste trabalho não é ficar preso ao passado, mas entendê-lo e integrá-lo ao presente, possibilitando a elaboração do que queremos para o nosso futuro.
Biográfico Panorâmico em Juiz de Fora e Teresópolis
O Biográfico Panorâmico é realizado em regime de imersão, em locais reservados, onde os participantes podem dedicar-se a trabalhar o seu interior, para retornarem ao seu mundo renovados e modificados.
Os nossos próximos Biográficos Panorâmicos ocorrerão nas seguintes datas e locais:
- Em Juiz de Fora, de 13 a 16 de novembro, no Seminário da Floresta.
- Em Teresópolis, na Pousada & Spa Vrindávana, na estrada que liga a Nova Friburgo, de 27 a 30 de novembro.
Escreva para santana@terapiabiografica.com.br ou marceloguerra@terapiabiografica.com.br para mais informações.
O objetivo do Trabalho Biográfico é conhecer a sua vida e percorrer os caminhos da sua própria história reconhecendo os fios que te conduziram até o momento. Através do levantamento dos fatos da sua própria vida e da leitura consciente desses fatos, você trabalhará o panorama familiar e individual desde o seu nascimento até o dia de hoje, podendo então reescrever a sua história com linhas e fios mais claros, passando pelo centro do seu próprio destino.
De dentro de sua história, e só assim, é possível você reconhecer sua missão humana e transformá-la em ação consciente no mundo.
Este trabalho será de quinta-feira à tardinha a domingo após o almoço, em lugar selecionado para instrospecção e cura.
Coordenadores:
-
Rosângela Cunha
Psicóloga, Gestalt-terapeuta e Terapeuta Biográfica
-
Marcelo Guerra
Médico Homeopata e Terapeuta Biográfico