Depressão: conheça os benefícios da homeopatia no tratamento desse transtorno mental

Marcelo Guerra

A depressão é um transtorno mental que afeta milhões de pessoas no mundo todo, causando sofrimento e prejuízo em várias áreas da vida. A depressão pode ter diversas causas, como fatores genéticos, ambientais, psicológicos e biológicos.

Uma das possíveis causas da depressão é o desequilíbrio da flora intestinal, que pode afetar a produção de neurotransmissores como a serotonina, responsável pela sensação de bem-estar. Além disso, o intestino é considerado o segundo cérebro do corpo humano, pois possui mais de 100 milhões de neurônios e se comunica com o sistema nervoso central.

Nesse sentido, a homeopatia pode ser uma alternativa para tratar a depressão, pois busca restaurar o equilíbrio do organismo como um todo, levando em conta as características individuais de cada paciente. A homeopatia é uma medicina natural que utiliza substâncias diluídas e dinamizadas para estimular a capacidade de autocura do corpo.

Existem vários remédios homeopáticos que podem ser indicados para a depressão, dependendo dos sintomas e da personalidade de cada pessoa. O tratamento homeopático deve ser feito sob orientação médica especializada, pois cada caso requer uma avaliação individualizada e uma prescrição adequada.

A homeopatia pode ser usada em conjunto com outras formas de tratamento, como a psicoterapia e os medicamentos convencionais, desde que haja acompanhamento médico.

A homeopatia pode oferecer benefícios para quem sofre com a depressão, pois busca tratar a pessoa como um todo, respeitando sua individualidade e sua história de vida. A homeopatia também pode ajudar a fortalecer o sistema imunológico, a regular o funcionamento do intestino e a melhorar a qualidade do sono e do humor.

Se você está sofrendo com sintomas de depressão, procure ajuda especializada. Não se automedique nem desista de buscar uma vida mais feliz e saudável. A depressão tem tratamento e você pode superá-la com apoio e cuidado.

Você sabe reconhecer quando está triste?

Marcelo Guerra

Reconhecer a tristeza é importante para lidar com ela de forma saudável e evitar que ela se torne um problema maior. A tristeza é uma emoção natural que surge diante de situações difíceis ou dolorosas da vida, como uma perda, uma frustração, um conflito ou uma decepção. A tristeza costuma ser passageira e não interfere no funcionamento normal da pessoa.

Alguns sinais que podem indicar que você está triste são:

  • Sentir-se desanimado, abatido ou vazio
  • Chorar com facilidade ou sem motivo aparente
  • Ter pensamentos negativos ou pessimistas
  • Perder o interesse ou o prazer pelas coisas que gostava de fazer
  • Isolar-se dos outros ou evitar o contato social
  • Ter dificuldade para dormir ou dormir demais
  • Ter alterações no apetite ou no peso

Se você se identifica com alguns desses sinais, pode ser que você esteja passando por um momento de tristeza. Nesse caso, algumas dicas que podem ajudar a superar esse sentimento são:

  • Exercitar o autoconhecimento: conhecer melhor os seus sentimentos e as suas necessidades pode ajudar a controlar melhor as suas emoções e a buscar soluções para os seus problemas.
  • Praticar meditação: meditar pode ajudar a acalmar a mente, reduzir o estresse e aumentar o bem-estar emocional.
  • Escrever um diário: escrever sobre os seus sentimentos e pensamentos pode ser uma forma de expressar e aliviar a tristeza, além de facilitar a compreensão das causas e das consequências da sua emoção.
  • Fazer exercícios: praticar atividades físicas pode liberar endorfinas, hormônios que promovem a sensação de prazer e felicidade.
  • Fazer terapia: procurar ajuda profissional pode ser muito benéfico para lidar com a tristeza, especialmente se ela for intensa ou duradoura. Um psicoterapeuta pode oferecer apoio emocional, orientação e técnicas para superar esse sentimento e melhorar a sua qualidade de vida.

Lembre-se que a tristeza é uma emoção normal e que faz parte do processo de crescimento pessoal. Não se culpe por sentir-se triste às vezes. O importante é reconhecer esse sentimento e buscar formas saudáveis de lidar com ele.

Tristeza, luto e depressão: como diferenciar e lidar com esses sentimentos

Marcelo Guerra

Tristeza, luto e depressão são três conceitos que podem se confundir, mas que têm características distintas. A tristeza é uma emoção natural e saudável que surge diante de situações difíceis ou dolorosas da vida. Ela costuma ser passageira e não interfere no funcionamento normal da pessoa.

O luto é uma reação à perda de alguém ou algo significativo, como um ente querido, um relacionamento ou um emprego. O luto envolve sentimentos de tristeza, saudade, raiva, culpa e desespero. O luto é um processo que faz parte da vida e que pode durar de alguns meses a alguns anos. O luto não é considerado um transtorno mental, mas pode se tornar um gatilho para a depressão se não for elaborado adequadamente.

A depressão é um transtorno mental caracterizado por uma tristeza persistente e profunda que afeta o humor, os pensamentos e o comportamento da pessoa. A depressão pode ter causas biológicas, psicológicas ou sociais e nem sempre está relacionada a um fator desencadeante específico. A depressão interfere na capacidade da pessoa de sentir prazer, ter esperança, se concentrar, tomar decisões e se relacionar com os outros. A depressão requer tratamento médico e psicoterápico para ser superada.

Portanto, a diferença entre tristeza, luto e depressão está na intensidade, na duração e no impacto dos sentimentos na vida da pessoa. A tristeza é uma emoção normal que tende a passar com o tempo; o luto é uma reação à perda que pode levar mais tempo para ser superado; e a depressão é uma doença que precisa de ajuda profissional para ser tratada.

O que O Castelo de Kafka pode nos ensinar sobre o sentido da vida e o bem-estar?

Marcelo Guerra

Você já leu O Castelo, de Franz Kafka? Se não leu, deveria. Esse é um dos romances mais intrigantes e fascinantes da literatura mundial. Nele, acompanhamos a jornada de K., um agrimensor que chega a uma vila dominada por um misterioso castelo. K. tenta se comunicar com as autoridades do castelo, mas enfrenta uma série de dificuldades e contradições que o impedem de realizar seu objetivo.

O livro é considerado uma obra-prima do existencialismo, uma corrente filosófica que se preocupa com as questões fundamentais da existência humana, como o sentido da vida, a liberdade, a responsabilidade e a angústia. Mas o que O Castelo pode nos ensinar sobre esses temas? E como ele pode nos ajudar a buscar o bem-estar em meio ao caos e à incerteza?

Neste post, vamos explorar algumas possíveis interpretações do livro e ver como elas podem nos inspirar a refletir sobre nossas próprias vidas. Vamos lá?

Uma interpretação religiosa

Uma das interpretações mais comuns do livro é a religiosa. Nessa leitura, o castelo seria uma metáfora para Deus ou para uma ordem superior que rege o destino dos homens. K., por sua vez, seria um homem em busca de uma conexão espiritual com essa ordem, mas que se frustra ao encontrar apenas burocracia e indiferença.

Essa interpretação pode nos levar a questionar qual é o papel da religião em nossas vidas. Será que ela nos oferece conforto e esperança ou apenas ilusão e alienação? Será que existe mesmo um plano divino para cada um de nós ou somos livres para escolher nosso próprio caminho? Será que vale a pena sacrificar nossa felicidade terrena por uma promessa de salvação futura?

Uma interpretação social

Outra interpretação possível do livro é a social. Nessa leitura, o castelo seria uma representação da sociedade ou do Estado, que impõe normas e hierarquias aos indivíduos. K., nesse caso, seria um homem que tenta se integrar à sociedade ou ao Estado, mas que se depara com obstáculos e injustiças que o excluem e o marginalizam.

Essa interpretação pode nos fazer pensar sobre como nos relacionamos com as instituições sociais e políticas em que vivemos. Será que elas são justas e democráticas ou opressoras e autoritárias? Será que elas respeitam nossa individualidade e nossa diversidade ou nos padronizam e nos discriminam? Será que elas nos permitem participar ativamente das decisões coletivas ou nos tornam meros espectadores passivos?

Uma interpretação psicológica

Por fim, uma terceira interpretação do livro é a psicológica. Nessa leitura, o castelo seria uma simbolização do inconsciente de K., enquanto a vila seria sua consciência. K., assim, seria um homem em busca de se conhecer melhor e de se integrar à sua própria personalidade, mas que enfrentaria resistências e conflitos internos que o impediriam de alcançar seu objetivo.

Essa interpretação pode nos estimular a olhar para dentro de nós mesmos e a reconhecer nossos medos, nossos desejos, nossas contradições e nossas potencialidades. Será que estamos satisfeitos com quem somos ou queremos mudar algo em nós? Será que temos consciência dos nossos sentimentos, pensamentos, ações  e motivações ou estamos agindo no piloto automático? Será que estamos buscando nosso equilíbrio e nossa harmonia interior ou estamos sofrendo de ansiedade e estresse?

Como você pode ver, O Castelo é um livro que nos oferece várias possibilidades de interpretação e de reflexão sobre o sentido da vida e o bem-estar. Mas não se preocupe se você não entendeu tudo ou se ficou com mais dúvidas do que certezas. Afinal, como disse o próprio Kafka: “Um livro deve ser um machado para o mar congelado dentro de nós”.

Psicologia junguiana e homeopatia: por quê?

Há 14 anos concluí a formação em Terapia Biográfica, e ano passado iniciei formação em psicologia junguiana. O que eu busco com isso?

A psicologia junguiana é uma abordagem terapêutica que visa auxiliar o indivíduo a resgatar a sua essência e a integrar os aspectos conscientes e inconscientes da sua personalidade. A homeopatia é um sistema de medicina que trata as doenças com substâncias naturais que estimulam a capacidade de cura do organismo.

A psicologia junguiana pode ajudar o médico homeopata a:

• Compreender melhor os sintomas e as emoções dos pacientes, bem como os seus sonhos, fantasias e imagens simbólicas.

• Identificar os arquétipos e os complexos que influenciam o comportamento e a saúde dos pacientes.

• Utilizar técnicas como a amplificação, a imaginação ativa e a sincronicidade para estabelecer uma relação terapêutica mais profunda e significativa com os pacientes.

• Integrar os conhecimentos da homeopatia com os da psicologia analítica, buscando uma visão integral do ser humano.

Os arquétipos de Jung são imagens primordiais que representam motivos humanos fundamentais e que compõem o inconsciente coletivo, que afeta o comportamento das pessoas. Eles podem ser percebidos em sonhos, mitos, contos de fadas e na arte.

A relação entre os arquétipos de Jung e os remédios homeopáticos é que ambos buscam atuar na dimensão mais profunda do ser humano, a sua essência ou self. Os remédios homeopáticos são escolhidos de acordo com o tipo constitucional do paciente, que pode ser influenciado por um ou mais arquétipos. Por exemplo, o remédio Lachesis pode ser associado ao arquétipo da Serpente, que geralmente simboliza a transformação e a cura.

Assim, os remédios homeopáticos podem ajudar a equilibrar a pessoa, favorecendo a integração dos aspectos inconscientes à consciência e trazendo harmonia psíquica.

As visões de mundo

https://youtu.be/sOw_qzHKD3A

Machado de Assis

IDÉIAS DO CANÁRIO

Um homem dado a estudos de ornitologia, por nome Macedo, referiu a alguns amigos um caso tão extraordinário que ninguém lhe deu crédito. Alguns chegam a supor que Macedo virou o juízo. Eis aqui o resumo da narração.

No princípio do mês passado, – disse ele, – indo por uma rua, sucedeu que um tílburi à disparada, quase me atirou ao chão. Escapei saltando para dentro de urna loja de belchior. Nem o estrépito do cavalo e do veículo, nem a minha entrada fez levantar o dono do negócio, que cochilava ao fundo, sentado numa cadeira de abrir. Era um frangalho de homem, barba cor de palha suja, a cabeça enfiada em um gorro esfarrapado, que provavelmente não achara comprador. Não se adivinhava nele nenhuma história, como podiam ter alguns dos objetos que vendia, nem se lhe sentia a tristeza austera e desenganada das vidas que foram vidas.

A loja era escura, atulhada das coisas velhas, tortas, rotas, enxovalhadas, enferrujadas que de ordinário se acham em tais casas, tudo naquela meia desordem própria do negócio. Essa mistura, posto que banal, era interessante. Panelas sem tampa, tampas sem panela, botões, sapatos, fechaduras, uma saia preta, chapéus de palha e de pêlo, caixilhos, binóculos, meias casacas, um florete, um cão empalhado, um par de chinelas, luvas, vasos sem nome, dragonas, uma bolsa de veludo, dois cabides, um bodoque, um termômetro, cadeiras, um retrato litografado pelo finado Sisson, um gamão, duas máscaras de arame para o carnaval que há de vir, tudo isso e o mais que não vi ou não me ficou de memória, enchia a loja nas imediações da porta, encostado, pendurado ou exposto em caixas de vidro, igualmente velhas. Lá para dentro, havia outras cousas mais e muitas, e do mesmo aspecto, dominando os objetos grandes, cômodas, cadeiras, camas, uns por cima dos outros, perdidos na escuridão.

Ia a sair, quando vi uma gaiola pendurada da porta. Tão velha como o resto, para ter o mesmo aspecto da desolação geral, faltava-lhe estar vazia. Não estava vazia. Dentro pulava um canário. A cor, a animação e a graça do passarinho davam àquele amontoado de destroços uma nota de vida e de mocidade. Era o último passageiro de algum naufrágio, que ali foi parar íntegro e alegre como dantes. Logo que olhei para ele, entrou a saltar mais abaixo e acima, de poleiro em poleiro, como se quisesse dizer que no meio daquele cemitério brincava um raio de sol. Não atribuo essa imagem ao canário, senão porque falo a gente retórica; em verdade, ele não pensou em cemitério nem sol, segundo me disse depois. Eu, de envolta com o prazer que me trouxe aquela vista, senti-me indignado do destino do pássaro, e murmurei baixinho palavras de azedume.

  • Quem seria o dono execrável deste bichinho, que teve ânimo de se desfazer dele por alguns pares de níqueis? Ou que mão indiferente, não querendo guardar esse companheiro de dono defunto, o deu de graça a algum pequeno, que o vendeu para ir jogar uma quiniela?

E o canário, quedando-se em cima do poleiro, trilou isto:

  • Quem quer que sejas tu, certamente não estás em teu juízo. Não tive dono execrável, nem fui dado a nenhum menino que me vendesse. São imaginações de pessoa doente; vai-te curar, amigo…
  • Como – interrompi eu, sem ter tempo de ficar espantado. Então o teu dono não te vendeu a esta casa? Não foi a miséria ou a ociosidade que te trouxe a este cemitério, como um raio de sol?
  • Não sei que seja sol nem cemitério. Se os canários que tens visto usam do primeiro desses nomes, tanto melhor, porque é bonito, mas estou que confundes.
  • Perdão, mas tu não vieste para aqui à toa, sem ninguém, salvo se o teu dono foi sempre aquele homem que ali está sentado.
  • Que dono? Esse homem que aí está é meu criado, dá-me água e comida todos os dias, com tal regularidade que eu, se devesse pagar-lhe os serviços, não seria com pouco; mas os canários não pagam criados. Em verdade, se o mundo é propriedade dos canários, seria extravagante que eles pagassem o que está no mundo.

Pasmado das respostas, não sabia que mais admirar, se a linguagem, se as ideias. A linguagem, posto me entrasse pelo ouvido como de gente, saía do bicho em trilos engraçados. Olhei em volta de mim, para verificar se estava acordado; a rua era a mesma, a loja era a mesma loja escura, triste e úmida. O canário, movendo a um lado e outro, esperava que eu lhe falasse. Perguntei-lhe então se tinha saudades do espaço azul e infinito…

  • Mas, caro homem, trilou o canário, que quer dizer espaço azul e infinito?
  • Mas, perdão, que pensas deste mundo? Que coisa é o mundo?
  • O mundo, redarguiu o canário com certo ar de professor, o mundo é uma loja de belchior, com uma pequena gaiola de taquara, quadrilonga, pendente de um prego; o canário é senhor da gaiola que habita e da loja que o cerca. Fora daí, tudo é ilusão e mentira.

Nisto acordou o velho, e veio a mim arrastando os pés. Perguntou-me se queria comprar o canário. Indaguei se o adquirira, como o resto dos objetos que vendia, e soube que sim, que o comprara a um barbeiro, acompanhado de uma coleção de navalhas.

  • As navalhas estão em muito bom uso, concluiu ele.
  • Quero só o canário.

Paguei-lhe o preço, mandei comprar uma gaiola vasta, circular, de madeira e arame, pintada de branco, e ordenei que a pusessem na varanda da minha casa, donde o passarinho podia ver o jardim, o repuxo e um pouco do céu azul.

Era meu intuito fazer um longo estudo do fenômeno, sem dizer nada a ninguém, até poder assombrar o século com a minha extraordinária descoberta. Comecei por alfabeto a língua do canário, por estudar-lhe a estrutura, as relações com a música, os sentimentos estéticos do bicho, as suas ideias e reminiscências. Feita essa análise filológica e psicológica, entrei propriamente na história dos canários, na origem deles, primeiros séculos, geologia e flora das ilhas Canárias, se ele tinha conhecimento da navegação, etc. Conversávamos longas horas, eu escrevendo as notas, ele esperando, saltando, trilando.

Não tendo mais família que dois criados, ordenava-lhes que não me interrompessem, ainda por motivo de alguma carta ou telegrama urgente, ou visita de importância. Sabendo ambos das minhas ocupações científicas, acharam natural a ordem, e não suspeitaram que o canário e eu nos entendíamos.

Não é mister dizer que dormia pouco, acordava duas e três vezes por noite, passeava à toa, sentia-me com febre. Afinal tornava ao trabalho, para reler, acrescentar, emendar. Retifiquei mais de uma observação, – ou por havê-la entendido mal, ou porque ele não a tivesse expresso claramente. A definição do mundo foi uma delas. Três semanas depois da entrada do canário em minha casa, pedi-lhe que me repetisse a definição do mundo.

  • O mundo, respondeu ele, é um jardim assaz largo com repuxo no meio, flores e arbustos, alguma grama, ar claro e um pouco de azul por cima; o canário, dono do mundo, habita uma gaiola vasta, branca e circular, donde mira o resto. Tudo o mais é ilusão e mentira.

Também a linguagem sofreu algumas retificações, e certas conclusões, que me tinham parecido simples, vi que eram temerárias. Não podia ainda escrever a memória que havia de mandar ao Museu Nacional, ao Instituto Histórico e às universidades alemãs, não porque faltasse matéria, mas para acumular primeiro todas as observações e ratificá-las. Nos últimos dias, não saía de casa, não respondia a cartas, não quis saber de amigos nem parentes. Todo eu era canário. De manhã, um dos criados tinha a seu cargo limpar a gaiola e por-lhe água e comida. O passarinho não lhe dizia nada, como se soubesse que a esse homem faltava qualquer preparo científico. Também o serviço era o mais sumário do mundo; o criado não era amador de pássaros.

Um sábado amanheci enfermo, a cabeça e a espinha doíam-me. O médico ordenou absoluto repouso; era excesso de estudo, não devia ler nem pensar, não devia saber sequer o que se passava na cidade e no mundo. Assim fiquei cinco dias; no sexto levantei-me, e só então soube que o canário, estando o criado a tratar dele, fugira da gaiola. O meu primeiro gesto foi para esganar o criado; a indignação sufocou-me, caí na cadeira, sem voz, tonto. O culpado defendeu-se, jurou que tivera cuidado, o passarinho é que fugira por astuto…

  • Mas não o procuraram?
  • Procuramos, sim, senhor; a princípio trepou ao telhado, trepei também, ele fugiu, foi para uma árvore, depois escondeu-se não sei onde. Tenho indagado desde ontem, perguntei aos vizinhos, aos chacareiros, ninguém sabe nada.

Padeci muito; felizmente, a fadiga estava passada, e com algumas horas pude sair à varanda e ao jardim. Nem sombra de canário. Indaguei, corri, anunciei, e nada. Tinha já recolhido as notas para compor a memória, ainda que truncada e incompleta, quando me sucedeu visitar um amigo, que ocupa uma das mais belas e grandes chácaras dos arrabaldes. Passeávamos nela antes de jantar, quando ouvi trilar esta pergunta:

  • Viva, Sr. Macedo, por onde tem andado que desapareceu?

Era o canário; estava no galho de uma árvore. Imaginem como fiquei, e o que lhe disse. O meu amigo cuidou que eu estivesse doido; mas que me importavam cuidados de amigos? Falei ao canário com ternura, pedi-lhe que viesse continuar a conversação, naquele nosso mundo composto de um jardim e repuxo, varanda e gaiola branca e circular…

  • Que jardim? que repuxo?
  • O mundo, meu querido.
  • Que mundo? Tu não perdes os maus costumes de professor.

O mundo, concluiu solenemente, é um espaço infinito e azul, com o sol por cima.

Indignado, retorqui-lhe que, se eu lhe desse crédito, o mundo era tudo; até já fora uma loja de belchior…

  • De belchior? trilou ele às bandeiras despregadas. Mas há mesmo lojas de belchior?

As vivências da infância no cuidado de si


A investigação das experiências infantis e sua influência na biografia do adulto.
Carinho, cuidado, confiança, coragem, resiliência: aprendizagens da infância que organizam a experiência do adulto.
De que maneira a sua infância influencia a sua vida hoje?

Dentro de cada um de nós ressoa ainda a nossa infância, que participa da nossa percepção e apreciação do mundo, daquilo que vivenciamos e sentimos, e é indispensável que esse ressoar seja saudável para que possamos ser adultos completos!
Muitas vezes não recebemos os cuidados e atenção que precisávamos quando crianças para podermos nos desenvolver de forma plena. Não poucas vezes sofremos abusos quando crianças, sejam físicos, sexuais ou com palavras. Ouvimos ofensas daqueles que deveriam nos proteger e cuidar. Palavras duras, como “você é muito preguiçoso”, “você não consegue aprender nada”, “você só faz besteira”, “você não presta mesmo”. Tudo soa como profecias que precisamos cumprir em nossas vidas, e assim vamos agindo para confirmar as palavras daqueles que amamos tanto.
Outras vezes as palavras vieram inflar nosso ego infantil, causando dificuldades na vida adulta da mesma maneira. Essa situação é exemplificada por elogios exagerados como “você é o melhor”, “minha filha nunca me deu trabalho, sempre foi comportada e obediente”, “você é a mais linda de todas”, “ninguém supera sua inteligência”.


Carregamos essas falas como verdades inconscientes.

Tanto as falas negativas quanto as positivas podem fazer com que a criança em desenvolvimento molde o seu comportamento de acordo com elas. Carregamos essas falas como verdades inconscientes. Por serem inconscientes, são mais difíceis de ser identificadas sem um trabalho terapêutico. 
Por outro lado, o que vivemos na infância é capaz de criar em nós a confiança nas outras pessoas, a criatividade que nos permite solucionar problemas quando adultos e a nossa capacidade de cultivar amizades. 
Ainda podemos libertar essa memória pulsante de nossa infância dessa dor que não foi expressa e que fica fazendo pirraça ou agindo de acordo com as ofensas que interiorizou desde criança, coisas que não cabem mais na vida de um adulto sadio, e atravancam nossos relacionamentos, nossa vida profissional e, principalmente, nossa autoestima! Porque o que essa criança quer mesmo é brincar, fazer amigos, criar e ser livre!!!


Transformar a dor em criatividade

Nesta vivência, buscaremos identificar os pontos da sua infância que influenciam suas atitudes de hoje, para que possamos trabalhá-los em grupo, buscando entendê-los e transformar a dor em criatividade que nos permita viver uma vida mais de acordo com o que sonhamos e não com o que nos (mal) profetizaram.
Este trabalho será realizado em grupo, com interações entre os participantes, que serão incentivados a criar um bebê-estrela, a partir de suas biografias.
Venha com uma roupa confortável, traga fotos suas de quando criança, brinquedos que você ainda tenha, objetos de sua infância que são importantes para você.

Quem coordena?

Marcelo Guerra, médico e terapeuta biográfico.

Nina Veiga, Psicopedagoga artística e doutora em educação e coordenadora da Pós-Graduação em Artes-Manuais para Terapias.

Quando e onde?
De 18 a 20 de janeiro de 2019, entrando às 18h de sexta e saindo até as 16h de domingo. 
A nossa estadia será no Centro Holístico Urucum – Sítio Vale de Luz, em Nova Friburgo, e inclui hospedagem compartilhada com refeições ovolactovegetarianas incluídas. Pode ser combinada hospedagem em quarto individual.

Quanto?
R$960, que podem ser parcelados em 3 vezes.
A inscrição pode ser feita pelo e-mail marceloguerra@terapiabiografica.com.br ou pelo WhatsApp (22)98175-7030.