Exercício: Um Prazer ou Uma Tortura?

Marcelo Guerra

Você sabia que se exercitar regularmente pode trazer muitos benefícios para a sua saúde física e mental? Além de prevenir doenças, melhorar o humor e aumentar a autoestima, o exercício também estimula o cérebro e a criatividade. Mas como encontrar motivação para se exercitar mais? Aqui vão algumas dicas:

  • Encontre uma atividade que você goste e que se adapte ao seu estilo de vida. Não adianta se forçar a fazer algo que você odeia ou que não cabe na sua rotina. Experimente diferentes modalidades e veja qual te dá mais prazer e satisfação.
  • Estabeleça metas realistas e mensuráveis. Não tente fazer tudo de uma vez ou se comparar com os outros. Comece devagar e vá aumentando a intensidade e a frequência dos seus exercícios conforme o seu progresso. Tenha em mente o seu objetivo final e celebre cada conquista.
  • Busque apoio e companhia. Se exercitar com outras pessoas pode ser mais divertido e motivador do que fazer sozinho. Você pode se juntar a um grupo, a um clube ou a um aplicativo que te conecte com outros praticantes da mesma atividade. Você também pode contar com o incentivo dos seus amigos, familiares ou profissionais da saúde.
  • Monitore o seu desempenho e os seus benefícios. Uma forma de se manter motivado é acompanhar os seus resultados e as mudanças que o exercício traz para a sua vida. Você pode usar um rastreador de exercícios, um diário ou uma planilha para registrar os seus dados e ver a sua evolução. Você também pode observar como o exercício afeta o seu humor, a sua disposição e a sua autoconfiança.
  • Não desista diante das dificuldades e dos desafios. É normal ter dias em que você não está com vontade ou não tem tempo de se exercitar. O importante é não deixar que isso vire uma desculpa para abandonar os seus planos. Seja flexível e resiliente. Se você perder um dia, compense no outro. Se você tiver um obstáculo, procure uma solução.

Lembre-se: se exercitar é um ato de amor próprio e de cuidado com a sua saúde. Não espere mais para começar a se movimentar mais e ter uma vida mais saudável. Você pode fazer isso!😊

Depressão: o que é, como se manifesta e como reconhecê-la

Marcelo Guerra

A depressão é um transtorno mental que afeta o humor, os pensamentos e o comportamento de uma pessoa, causando sofrimento e prejuízo em várias áreas da vida. A depressão não é apenas uma tristeza passageira ou uma fraqueza de caráter. É uma doença séria que precisa de tratamento adequado.

Mas como reconhecer a depressão? Não existe um exame laboratorial ou de imagem que possa confirmar a doença. O diagnóstico da depressão é feito pelo médico, que avalia o histórico familiar, o momento atual vivido e o estado mental do paciente.

Para isso, o médico se baseia nos seguintes critérios:

  • Apresentar pelo menos cinco dos seguintes sintomas por pelo menos duas semanas:
    • humor deprimido na maior parte do dia;
    • perda de interesse ou prazer pelas atividades que antes eram agradáveis;
    • alteração significativa no peso ou no apetite;
    • insônia ou excesso de sono;
    • agitação ou lentidão psicomotora;
    • fadiga ou perda de energia;
    • sentimentos de inutilidade ou culpa excessiva;
    • dificuldade para se concentrar ou tomar decisões;
    • pensamentos recorrentes de morte ou suicídio.
  • Os sintomas devem causar sofrimento significativo ou prejuízo no funcionamento social, ocupacional ou em outras áreas importantes da vida.
  • Os sintomas não devem ser atribuídos aos efeitos de alguma substância, medicamento ou condição médica. Os sintomas não devem ser explicados por outro transtorno mental, como transtorno bipolar, esquizofrenia ou transtorno do estresse pós-traumático.

Além desses critérios, existem alguns sinais que podem indicar que uma pessoa está com depressão. Alguns desses sinais são:

  • Chorar com facilidade ou sem motivo aparente
  • Ter pensamentos negativos ou pessimistas
  • Isolar-se dos outros ou evitar o contato social
  • Perder a esperança no futuro
  • Ter dificuldade para sentir alegria
  • Sentir-se vazio, angustiado ou desesperado
  • Ter baixa autoestima Apresentar dores físicas sem causa orgânica

Se você se identifica com alguns desses sinais e sintomas, procure ajuda profissional. A depressão tem tratamento e pode ser superada com acompanhamento médico e psicológico adequados.

Você sabe reconhecer quando está triste?

Marcelo Guerra

Reconhecer a tristeza é importante para lidar com ela de forma saudável e evitar que ela se torne um problema maior. A tristeza é uma emoção natural que surge diante de situações difíceis ou dolorosas da vida, como uma perda, uma frustração, um conflito ou uma decepção. A tristeza costuma ser passageira e não interfere no funcionamento normal da pessoa.

Alguns sinais que podem indicar que você está triste são:

  • Sentir-se desanimado, abatido ou vazio
  • Chorar com facilidade ou sem motivo aparente
  • Ter pensamentos negativos ou pessimistas
  • Perder o interesse ou o prazer pelas coisas que gostava de fazer
  • Isolar-se dos outros ou evitar o contato social
  • Ter dificuldade para dormir ou dormir demais
  • Ter alterações no apetite ou no peso

Se você se identifica com alguns desses sinais, pode ser que você esteja passando por um momento de tristeza. Nesse caso, algumas dicas que podem ajudar a superar esse sentimento são:

  • Exercitar o autoconhecimento: conhecer melhor os seus sentimentos e as suas necessidades pode ajudar a controlar melhor as suas emoções e a buscar soluções para os seus problemas.
  • Praticar meditação: meditar pode ajudar a acalmar a mente, reduzir o estresse e aumentar o bem-estar emocional.
  • Escrever um diário: escrever sobre os seus sentimentos e pensamentos pode ser uma forma de expressar e aliviar a tristeza, além de facilitar a compreensão das causas e das consequências da sua emoção.
  • Fazer exercícios: praticar atividades físicas pode liberar endorfinas, hormônios que promovem a sensação de prazer e felicidade.
  • Fazer terapia: procurar ajuda profissional pode ser muito benéfico para lidar com a tristeza, especialmente se ela for intensa ou duradoura. Um psicoterapeuta pode oferecer apoio emocional, orientação e técnicas para superar esse sentimento e melhorar a sua qualidade de vida.

Lembre-se que a tristeza é uma emoção normal e que faz parte do processo de crescimento pessoal. Não se culpe por sentir-se triste às vezes. O importante é reconhecer esse sentimento e buscar formas saudáveis de lidar com ele.

Tristeza, luto e depressão: como diferenciar e lidar com esses sentimentos

Marcelo Guerra

Tristeza, luto e depressão são três conceitos que podem se confundir, mas que têm características distintas. A tristeza é uma emoção natural e saudável que surge diante de situações difíceis ou dolorosas da vida. Ela costuma ser passageira e não interfere no funcionamento normal da pessoa.

O luto é uma reação à perda de alguém ou algo significativo, como um ente querido, um relacionamento ou um emprego. O luto envolve sentimentos de tristeza, saudade, raiva, culpa e desespero. O luto é um processo que faz parte da vida e que pode durar de alguns meses a alguns anos. O luto não é considerado um transtorno mental, mas pode se tornar um gatilho para a depressão se não for elaborado adequadamente.

A depressão é um transtorno mental caracterizado por uma tristeza persistente e profunda que afeta o humor, os pensamentos e o comportamento da pessoa. A depressão pode ter causas biológicas, psicológicas ou sociais e nem sempre está relacionada a um fator desencadeante específico. A depressão interfere na capacidade da pessoa de sentir prazer, ter esperança, se concentrar, tomar decisões e se relacionar com os outros. A depressão requer tratamento médico e psicoterápico para ser superada.

Portanto, a diferença entre tristeza, luto e depressão está na intensidade, na duração e no impacto dos sentimentos na vida da pessoa. A tristeza é uma emoção normal que tende a passar com o tempo; o luto é uma reação à perda que pode levar mais tempo para ser superado; e a depressão é uma doença que precisa de ajuda profissional para ser tratada.

O que O Castelo de Kafka pode nos ensinar sobre o sentido da vida e o bem-estar?

Marcelo Guerra

Você já leu O Castelo, de Franz Kafka? Se não leu, deveria. Esse é um dos romances mais intrigantes e fascinantes da literatura mundial. Nele, acompanhamos a jornada de K., um agrimensor que chega a uma vila dominada por um misterioso castelo. K. tenta se comunicar com as autoridades do castelo, mas enfrenta uma série de dificuldades e contradições que o impedem de realizar seu objetivo.

O livro é considerado uma obra-prima do existencialismo, uma corrente filosófica que se preocupa com as questões fundamentais da existência humana, como o sentido da vida, a liberdade, a responsabilidade e a angústia. Mas o que O Castelo pode nos ensinar sobre esses temas? E como ele pode nos ajudar a buscar o bem-estar em meio ao caos e à incerteza?

Neste post, vamos explorar algumas possíveis interpretações do livro e ver como elas podem nos inspirar a refletir sobre nossas próprias vidas. Vamos lá?

Uma interpretação religiosa

Uma das interpretações mais comuns do livro é a religiosa. Nessa leitura, o castelo seria uma metáfora para Deus ou para uma ordem superior que rege o destino dos homens. K., por sua vez, seria um homem em busca de uma conexão espiritual com essa ordem, mas que se frustra ao encontrar apenas burocracia e indiferença.

Essa interpretação pode nos levar a questionar qual é o papel da religião em nossas vidas. Será que ela nos oferece conforto e esperança ou apenas ilusão e alienação? Será que existe mesmo um plano divino para cada um de nós ou somos livres para escolher nosso próprio caminho? Será que vale a pena sacrificar nossa felicidade terrena por uma promessa de salvação futura?

Uma interpretação social

Outra interpretação possível do livro é a social. Nessa leitura, o castelo seria uma representação da sociedade ou do Estado, que impõe normas e hierarquias aos indivíduos. K., nesse caso, seria um homem que tenta se integrar à sociedade ou ao Estado, mas que se depara com obstáculos e injustiças que o excluem e o marginalizam.

Essa interpretação pode nos fazer pensar sobre como nos relacionamos com as instituições sociais e políticas em que vivemos. Será que elas são justas e democráticas ou opressoras e autoritárias? Será que elas respeitam nossa individualidade e nossa diversidade ou nos padronizam e nos discriminam? Será que elas nos permitem participar ativamente das decisões coletivas ou nos tornam meros espectadores passivos?

Uma interpretação psicológica

Por fim, uma terceira interpretação do livro é a psicológica. Nessa leitura, o castelo seria uma simbolização do inconsciente de K., enquanto a vila seria sua consciência. K., assim, seria um homem em busca de se conhecer melhor e de se integrar à sua própria personalidade, mas que enfrentaria resistências e conflitos internos que o impediriam de alcançar seu objetivo.

Essa interpretação pode nos estimular a olhar para dentro de nós mesmos e a reconhecer nossos medos, nossos desejos, nossas contradições e nossas potencialidades. Será que estamos satisfeitos com quem somos ou queremos mudar algo em nós? Será que temos consciência dos nossos sentimentos, pensamentos, ações  e motivações ou estamos agindo no piloto automático? Será que estamos buscando nosso equilíbrio e nossa harmonia interior ou estamos sofrendo de ansiedade e estresse?

Como você pode ver, O Castelo é um livro que nos oferece várias possibilidades de interpretação e de reflexão sobre o sentido da vida e o bem-estar. Mas não se preocupe se você não entendeu tudo ou se ficou com mais dúvidas do que certezas. Afinal, como disse o próprio Kafka: “Um livro deve ser um machado para o mar congelado dentro de nós”.

Hoje tem cajá!!!

Marcelo Guerra

Hoje encontrei cajá na feira, uma fruta que eu adoro! Na casa da minha avó tinha um pé e todo ano me empanturrava de cajá, sem contar o doce que ela fazia. Adoro frutas azedas, como o cajá e o tamarindo (esse tinha um pé na casa da minha outra avó). Ano passado, em Manaus, tive algumas oportunidades de tomar suco de cajá, que no Norte é chamado de Taperebá.

Além de deliciosa, é uma fruta rica em qualidades medicinais. Algumas das propriedades medicinais do cajá são:

  • Ajudar no emagrecimento, pois é rico em fibras que aumentam a saciedade e reduzem o apetite.
  • Prevenir doenças cardiovasculares, pois é rico em antioxidantes e anti-inflamatórios que combatem os radicais livres e evitam a formação de placas de gordura nas artérias.
  • Combater a anemia, pois é rico em vitamina C que melhora a absorção de ferro dos alimentos e em ferro que é essencial para a formação da hemoglobina.
  • Fortalecer o sistema imunológico, pois é rico em vitamina C que estimula a produção de glóbulos brancos e anticorpos.
  • Melhorar a digestão, pois é rico em fibras que regulam o trânsito intestinal e evitam a prisão de ventre.
  • Aliviar dores estomacais e cólicas, pois o chá das folhas do cajá tem propriedades anti-inflamatórias e analgésicas.
  • Controlar o diabetes, pois o chá das folhas do cajá tem propriedades hipoglicemiantes que reduzem os níveis de açúcar no sangue.

O cajá pode ser consumido in natura ou na forma de sucos, sorvetes, geleias, doces e licores. É importante lembrar que o consumo excessivo de cajá pode causar acidez estomacal ou diarreia ( eu nunca passei por isso, apesar de comer muito na época do cajá, quando era criança).

Psicologia junguiana e homeopatia: por quê?

Há 14 anos concluí a formação em Terapia Biográfica, e ano passado iniciei formação em psicologia junguiana. O que eu busco com isso?

A psicologia junguiana é uma abordagem terapêutica que visa auxiliar o indivíduo a resgatar a sua essência e a integrar os aspectos conscientes e inconscientes da sua personalidade. A homeopatia é um sistema de medicina que trata as doenças com substâncias naturais que estimulam a capacidade de cura do organismo.

A psicologia junguiana pode ajudar o médico homeopata a:

• Compreender melhor os sintomas e as emoções dos pacientes, bem como os seus sonhos, fantasias e imagens simbólicas.

• Identificar os arquétipos e os complexos que influenciam o comportamento e a saúde dos pacientes.

• Utilizar técnicas como a amplificação, a imaginação ativa e a sincronicidade para estabelecer uma relação terapêutica mais profunda e significativa com os pacientes.

• Integrar os conhecimentos da homeopatia com os da psicologia analítica, buscando uma visão integral do ser humano.

Os arquétipos de Jung são imagens primordiais que representam motivos humanos fundamentais e que compõem o inconsciente coletivo, que afeta o comportamento das pessoas. Eles podem ser percebidos em sonhos, mitos, contos de fadas e na arte.

A relação entre os arquétipos de Jung e os remédios homeopáticos é que ambos buscam atuar na dimensão mais profunda do ser humano, a sua essência ou self. Os remédios homeopáticos são escolhidos de acordo com o tipo constitucional do paciente, que pode ser influenciado por um ou mais arquétipos. Por exemplo, o remédio Lachesis pode ser associado ao arquétipo da Serpente, que geralmente simboliza a transformação e a cura.

Assim, os remédios homeopáticos podem ajudar a equilibrar a pessoa, favorecendo a integração dos aspectos inconscientes à consciência e trazendo harmonia psíquica.

As visões de mundo

https://youtu.be/sOw_qzHKD3A

Machado de Assis

IDÉIAS DO CANÁRIO

Um homem dado a estudos de ornitologia, por nome Macedo, referiu a alguns amigos um caso tão extraordinário que ninguém lhe deu crédito. Alguns chegam a supor que Macedo virou o juízo. Eis aqui o resumo da narração.

No princípio do mês passado, – disse ele, – indo por uma rua, sucedeu que um tílburi à disparada, quase me atirou ao chão. Escapei saltando para dentro de urna loja de belchior. Nem o estrépito do cavalo e do veículo, nem a minha entrada fez levantar o dono do negócio, que cochilava ao fundo, sentado numa cadeira de abrir. Era um frangalho de homem, barba cor de palha suja, a cabeça enfiada em um gorro esfarrapado, que provavelmente não achara comprador. Não se adivinhava nele nenhuma história, como podiam ter alguns dos objetos que vendia, nem se lhe sentia a tristeza austera e desenganada das vidas que foram vidas.

A loja era escura, atulhada das coisas velhas, tortas, rotas, enxovalhadas, enferrujadas que de ordinário se acham em tais casas, tudo naquela meia desordem própria do negócio. Essa mistura, posto que banal, era interessante. Panelas sem tampa, tampas sem panela, botões, sapatos, fechaduras, uma saia preta, chapéus de palha e de pêlo, caixilhos, binóculos, meias casacas, um florete, um cão empalhado, um par de chinelas, luvas, vasos sem nome, dragonas, uma bolsa de veludo, dois cabides, um bodoque, um termômetro, cadeiras, um retrato litografado pelo finado Sisson, um gamão, duas máscaras de arame para o carnaval que há de vir, tudo isso e o mais que não vi ou não me ficou de memória, enchia a loja nas imediações da porta, encostado, pendurado ou exposto em caixas de vidro, igualmente velhas. Lá para dentro, havia outras cousas mais e muitas, e do mesmo aspecto, dominando os objetos grandes, cômodas, cadeiras, camas, uns por cima dos outros, perdidos na escuridão.

Ia a sair, quando vi uma gaiola pendurada da porta. Tão velha como o resto, para ter o mesmo aspecto da desolação geral, faltava-lhe estar vazia. Não estava vazia. Dentro pulava um canário. A cor, a animação e a graça do passarinho davam àquele amontoado de destroços uma nota de vida e de mocidade. Era o último passageiro de algum naufrágio, que ali foi parar íntegro e alegre como dantes. Logo que olhei para ele, entrou a saltar mais abaixo e acima, de poleiro em poleiro, como se quisesse dizer que no meio daquele cemitério brincava um raio de sol. Não atribuo essa imagem ao canário, senão porque falo a gente retórica; em verdade, ele não pensou em cemitério nem sol, segundo me disse depois. Eu, de envolta com o prazer que me trouxe aquela vista, senti-me indignado do destino do pássaro, e murmurei baixinho palavras de azedume.

  • Quem seria o dono execrável deste bichinho, que teve ânimo de se desfazer dele por alguns pares de níqueis? Ou que mão indiferente, não querendo guardar esse companheiro de dono defunto, o deu de graça a algum pequeno, que o vendeu para ir jogar uma quiniela?

E o canário, quedando-se em cima do poleiro, trilou isto:

  • Quem quer que sejas tu, certamente não estás em teu juízo. Não tive dono execrável, nem fui dado a nenhum menino que me vendesse. São imaginações de pessoa doente; vai-te curar, amigo…
  • Como – interrompi eu, sem ter tempo de ficar espantado. Então o teu dono não te vendeu a esta casa? Não foi a miséria ou a ociosidade que te trouxe a este cemitério, como um raio de sol?
  • Não sei que seja sol nem cemitério. Se os canários que tens visto usam do primeiro desses nomes, tanto melhor, porque é bonito, mas estou que confundes.
  • Perdão, mas tu não vieste para aqui à toa, sem ninguém, salvo se o teu dono foi sempre aquele homem que ali está sentado.
  • Que dono? Esse homem que aí está é meu criado, dá-me água e comida todos os dias, com tal regularidade que eu, se devesse pagar-lhe os serviços, não seria com pouco; mas os canários não pagam criados. Em verdade, se o mundo é propriedade dos canários, seria extravagante que eles pagassem o que está no mundo.

Pasmado das respostas, não sabia que mais admirar, se a linguagem, se as ideias. A linguagem, posto me entrasse pelo ouvido como de gente, saía do bicho em trilos engraçados. Olhei em volta de mim, para verificar se estava acordado; a rua era a mesma, a loja era a mesma loja escura, triste e úmida. O canário, movendo a um lado e outro, esperava que eu lhe falasse. Perguntei-lhe então se tinha saudades do espaço azul e infinito…

  • Mas, caro homem, trilou o canário, que quer dizer espaço azul e infinito?
  • Mas, perdão, que pensas deste mundo? Que coisa é o mundo?
  • O mundo, redarguiu o canário com certo ar de professor, o mundo é uma loja de belchior, com uma pequena gaiola de taquara, quadrilonga, pendente de um prego; o canário é senhor da gaiola que habita e da loja que o cerca. Fora daí, tudo é ilusão e mentira.

Nisto acordou o velho, e veio a mim arrastando os pés. Perguntou-me se queria comprar o canário. Indaguei se o adquirira, como o resto dos objetos que vendia, e soube que sim, que o comprara a um barbeiro, acompanhado de uma coleção de navalhas.

  • As navalhas estão em muito bom uso, concluiu ele.
  • Quero só o canário.

Paguei-lhe o preço, mandei comprar uma gaiola vasta, circular, de madeira e arame, pintada de branco, e ordenei que a pusessem na varanda da minha casa, donde o passarinho podia ver o jardim, o repuxo e um pouco do céu azul.

Era meu intuito fazer um longo estudo do fenômeno, sem dizer nada a ninguém, até poder assombrar o século com a minha extraordinária descoberta. Comecei por alfabeto a língua do canário, por estudar-lhe a estrutura, as relações com a música, os sentimentos estéticos do bicho, as suas ideias e reminiscências. Feita essa análise filológica e psicológica, entrei propriamente na história dos canários, na origem deles, primeiros séculos, geologia e flora das ilhas Canárias, se ele tinha conhecimento da navegação, etc. Conversávamos longas horas, eu escrevendo as notas, ele esperando, saltando, trilando.

Não tendo mais família que dois criados, ordenava-lhes que não me interrompessem, ainda por motivo de alguma carta ou telegrama urgente, ou visita de importância. Sabendo ambos das minhas ocupações científicas, acharam natural a ordem, e não suspeitaram que o canário e eu nos entendíamos.

Não é mister dizer que dormia pouco, acordava duas e três vezes por noite, passeava à toa, sentia-me com febre. Afinal tornava ao trabalho, para reler, acrescentar, emendar. Retifiquei mais de uma observação, – ou por havê-la entendido mal, ou porque ele não a tivesse expresso claramente. A definição do mundo foi uma delas. Três semanas depois da entrada do canário em minha casa, pedi-lhe que me repetisse a definição do mundo.

  • O mundo, respondeu ele, é um jardim assaz largo com repuxo no meio, flores e arbustos, alguma grama, ar claro e um pouco de azul por cima; o canário, dono do mundo, habita uma gaiola vasta, branca e circular, donde mira o resto. Tudo o mais é ilusão e mentira.

Também a linguagem sofreu algumas retificações, e certas conclusões, que me tinham parecido simples, vi que eram temerárias. Não podia ainda escrever a memória que havia de mandar ao Museu Nacional, ao Instituto Histórico e às universidades alemãs, não porque faltasse matéria, mas para acumular primeiro todas as observações e ratificá-las. Nos últimos dias, não saía de casa, não respondia a cartas, não quis saber de amigos nem parentes. Todo eu era canário. De manhã, um dos criados tinha a seu cargo limpar a gaiola e por-lhe água e comida. O passarinho não lhe dizia nada, como se soubesse que a esse homem faltava qualquer preparo científico. Também o serviço era o mais sumário do mundo; o criado não era amador de pássaros.

Um sábado amanheci enfermo, a cabeça e a espinha doíam-me. O médico ordenou absoluto repouso; era excesso de estudo, não devia ler nem pensar, não devia saber sequer o que se passava na cidade e no mundo. Assim fiquei cinco dias; no sexto levantei-me, e só então soube que o canário, estando o criado a tratar dele, fugira da gaiola. O meu primeiro gesto foi para esganar o criado; a indignação sufocou-me, caí na cadeira, sem voz, tonto. O culpado defendeu-se, jurou que tivera cuidado, o passarinho é que fugira por astuto…

  • Mas não o procuraram?
  • Procuramos, sim, senhor; a princípio trepou ao telhado, trepei também, ele fugiu, foi para uma árvore, depois escondeu-se não sei onde. Tenho indagado desde ontem, perguntei aos vizinhos, aos chacareiros, ninguém sabe nada.

Padeci muito; felizmente, a fadiga estava passada, e com algumas horas pude sair à varanda e ao jardim. Nem sombra de canário. Indaguei, corri, anunciei, e nada. Tinha já recolhido as notas para compor a memória, ainda que truncada e incompleta, quando me sucedeu visitar um amigo, que ocupa uma das mais belas e grandes chácaras dos arrabaldes. Passeávamos nela antes de jantar, quando ouvi trilar esta pergunta:

  • Viva, Sr. Macedo, por onde tem andado que desapareceu?

Era o canário; estava no galho de uma árvore. Imaginem como fiquei, e o que lhe disse. O meu amigo cuidou que eu estivesse doido; mas que me importavam cuidados de amigos? Falei ao canário com ternura, pedi-lhe que viesse continuar a conversação, naquele nosso mundo composto de um jardim e repuxo, varanda e gaiola branca e circular…

  • Que jardim? que repuxo?
  • O mundo, meu querido.
  • Que mundo? Tu não perdes os maus costumes de professor.

O mundo, concluiu solenemente, é um espaço infinito e azul, com o sol por cima.

Indignado, retorqui-lhe que, se eu lhe desse crédito, o mundo era tudo; até já fora uma loja de belchior…

  • De belchior? trilou ele às bandeiras despregadas. Mas há mesmo lojas de belchior?

A gente precisa ser escutado

Marcelo Guerra

Aproveitei o feriado para assistir alguns filmes. Dentre eles, vi um afegão, muito interessante, chamado PEDRA DE PACIÊNCIA, e aproveitei para rever um francês que gostei muito e já indiquei para várias pessoas, A FAMÍLIA BÉLIER. Decidi rever por causa do tema do primeiro. (O texto contém spoilers, mas não afetam a experiência de assistir os filmes).

Os filmes apresentam inúmeros contrastes, como o ambiente rural bucólico X a cidade destruída pela guerra, as preocupações de uma adolescente europeia X o desejo de um mínimo de autonomia da mulher afegã. No entanto, ambos mostram uma necessidade universal não satisfeita: a necessidade de alguém ser escutado, de poder revelar sua história e suas aspirações às pessoas próximas sem medo de condenação, críticas ou humilhação.

A necessidade de alguém ser escutado, de poder revelar sua história e suas aspirações às pessoas próximas sem medo de condenação, críticas ou humilhação.

PEDRA DE PACIÊNCIA é a história de uma mulher afegã, vivendo em meio à guerra, tendo que cuidar do marido em estado vegetativo por causa de uma bala na nuca. Ela começa a falar com ele, a princípio queixando-se da situação de abandono em que estão, sem atendimento médico, sem dinheiro, sem família, às moscas. E quando eu digo às moscas, é também literalmente, porque sempre aparecem muitas moscas no filme.

Aos poucos, ela vai contando sua história ao marido que está ali sem expressar nenhuma reação. Conta os seus medos, suas aspirações, como foi a sua percepção do noivado e do casamento. Conta de como se sentiu decepcionada por ter se casado sem a presença do noivo, devido à guerra. Nessa ocasião, o noivo foi representado por seu punhal, um símbolo de virilidade,  poder e honra, o que é bastante significativo tendo em conta a descrição que a mulher faz de sua rude vida em comum e de suas relações sexuais, descritas como relações sem afeto, completamente de mão única. À medida em que vai se abrindo para esse homem de quem ela na verdade sabe muito pouco, ela vai demonstrando maior preocupação e cuidado com ele.

A protagonista lhe conta sobre sua infância, sobre o pouco cuidado e acolhimento que o pai dedicava a si e à sua irmã mais velha, muito menos do que às suas codornas. Fala da subjugação da mulher numa cultura islâmica fundamentalista, do seu valor como moeda de troca, e de como isso a perturbava. Por fim, conta até seus segredos mais íntimos, que poderiam ameaçar sua própria vida.

Em meio à violência da guerra, ela conhece um homem com quem ela pode ter alguma troca, que escuta seus desejos e de quem ela escuta a história. O final do filme exibe alguma esperança de redenção em meio à dor.

A FAMÍLIA BÉLIER se passa no interior da França, e a protagonista é uma adolescente que ajuda os pais na fazenda em que vivem e frequenta a escola, com todas as questões próprias a esse contexto. O detalhe é que seus pais e seu irmão são surdos-mudos, e ela faz a ligação da família com os fornecedores e compradores, com o mundo em geral. Num paralelo, o filme vai mostrando o nascimento e crescimento de um bezerro da fazenda, que ela batizou de Obama, por ser diferente do restante do rebanho.

Na escola, ela precisa escolher uma disciplina de artes e se decide por entrar para o coral, para se aproximar de um garoto por quem ela tinha algum interesse. Logo o professor percebe que ela possui uma voz excelente e sugere que ela participe de um concurso para fazer parte de um importante coral em Paris. O que havia sido uma decisão sem interesse real na música traz um dilema que vai afetar toda a sua vida e de sua família.

Por não escutar, a princípio seus pais não valorizam seu interesse pela música, mas ao se darem conta da repercussão que o seu canto provoca nas pessoas, deixam um pouco de lado seus interesses e dificuldades pessoais para ajudá-la a realizar-se. O filme é uma metáfora meio óbvia da eterna queixa dos adolescentes de que “ninguém me escuta”. Neste caso, não escutam mesmo.

É o interesse real pelo que o outro tem a dizer que cria vínculos entre nós.

É a escuta que permite que as pessoas se conectem de verdade, muito além de curtidas e compartilhamentos. É o interesse real pelo que o outro tem a dizer que cria vínculos entre nós. Não é uma escuta motivada por curiosidade ou desejo de julgamento, mas uma escuta de histórias, daquilo que pensa e sente aquele que fala, o que lhe motiva, o que lhe causa dor e desconforto, quais são suas aspirações. Aquilo que torna alguém humano, em resumo.

A quem você pode escutar hoje?

As psicoterapias fazem dessa escuta uma importante profissão, e têm ajudado muitas pessoas desde que Freud descobriu o Inconsciente. Nesse caso, é uma escuta qualificada, com uma técnica própria a cada modalidade de psicoterapia. Mas a escuta verdadeira não deve se limitar aos consultórios, ela deve permear os relacionamentos humanos, sejam amorosos,entre pais e filhos ou entre amigos. Uma vez, um pastor me disse numa conversa que Jó, da história do Velho Testamento, no auge das desgraças que lhe aconteceram, recebeu a visita de amigos que simplesmente se sentaram ao seu lado por sete dias para se solidarizar e escutar o que ele tivesse vontade de dizer. Eles não foram para sugerir nada, para criticar nada, só para estar ao seu lado e lhe emprestar os ouvidos. Acredito que estamos perdendo essa capacidade da escuta e precisamos reaprendê-la para que a rede de nossas conexões humanas possa ser novamente tecida. A quem você pode escutar hoje?

Sobre a importância da vontade

Marcelo Guerra

Quando olhamos para o que vivemos até hoje, temos uma visão panorâmica, semelhante a quando você está no alto de uma montanha e pode ver a paisagem lá embaixo, com sua topografia, seus rios, suas ruas, suas casas e prédios. Cada esquina que você vê tem muita importância.

E qual foi a energia usada para construir essa paisagem da sua vida? Foi a vontade, essa força interna que nos impulsiona a superar obstáculos, que faz um atleta querer completar uma prova mesmo quando o corpo já não responde. Lembra daquela corredora suíça na maratona das Olimpíadas de Los Angeles? Aquele é um exemplo de vontade que foi televisionado para todo o mundo, mas todos os dias essa vontade faz com que pessoas acordem cedo e saiam para o trabalho, ou durmam mais tarde estudando para melhorar de vida. É a vontade que permite que muitas mulheres que vivem em situação de miséria consigam alimentar seus filhos pelo menos por hoje, mesmo que seja com comida recolhida do lixo de restaurantes. É a mesma vontade que serve como cimento para manter um casal juntos por longo tempo, apesar das dificuldades grandes e pequenas que sempre existem quando se juntam duas vidas.

A vontade é a energia que nos leva a fazer ou não fazer uma coisa, pelo exercício de nosso livre arbítrio ou livre determinação, sem necessidade de nenhuma influência externa que obrigue a isso.

A Medicina Chinesa considera que a vontade é um atributo que está diretamente ligado à formação de nosso corpo material. É muito mais do que um estado psíquico, é algo que tem uma ligação umbilical com o nosso corpo e nossa própria existência. Age de forma inconsciente e inteligente, modelando nosso destino, pelas nossas ações e escolhas.

Ela não é privilégio de alguns, não é um dom, como o daquele cara que tira música de ouvido no violão sem nunca ter feito uma aula. Todos nascemos com essa vontade. É com ela que vamos bordando nossa biografia. Preste atenção na sua história, que você vai reconhecer essa vontade e colocá-la para trabalhar a seu favor.  

A vontade é a energia que nos leva a fazer ou não fazer uma coisa, pelo exercício de nosso livre arbítrio ou livre determinação, sem necessidade de nenhuma influência externa que obrigue a isso.

A boa notícia é que é possível exercitar a vontade, como um treinamento. O primeiro passo é tomar consciência do que se quer. Daí que o trabalho para a concretização desse desejo deve se tornar um hábito. Para muitos, esse hábito vai se tornar chato e penoso no decorrer do tempo, afinal aquilo que é novo geralmente é mais atraente. Contudo, a certeza da meta a ser alcançada serve de combustível para superar esse desconforto da rotina e aplicar-se para atingir aquela meta que um deseja. Para esse exercício é bom começar com metas de curto prazo, para que a rotina inicialmente não se prolongue por um tempo longo. É um exercício, pense na academia. Você começa levantando 1kg, e acha impossível fazê-lo com 30kg. Mas com a continuidade da prática, os 30kg se tornam viáveis. Quando você começa a atingir metas que deseja, ainda que aparentemente pequenas, isso aumenta a sua autoconfiança e o desejo de buscar metas maiores. Não se deixe vencer pela rotina, ela pode ser sua aliada, se você colocar sua vontade em ação.

Texto originalmente publicado no portal Personare.